Se a Catalunha se tornar uma região independente, isso deve mudar tudo sobre como as companhias fazem negócios. A Catalunha não será uma um membro da União Europeia. Pode nem mesmo fazer parte da zona do euro. A região precisaria de moeda, regras de imigração e novos acordos de negociação. E esses arranjos ainda não serão fáceis de se resolver.
A Espanha já deixou claro que não negociará com a Catalunha. A União Europeia também tem se recusado a sugerir uma relação melhor.
Na teoria, a independência supostamente faria a região mais próspera. Mas o referendo de outubro deixou as empresas nervosas. Desde a votação, 2,7 mil empresas mudaram suas sedes de região, de acordo com os registros comerciais espanhóis, informou a Agência France-Presse. Isso inclui os maiores bancos, como Caixabak e Sabadell, e pequenas e médias empresas.
Muitas destas mudanças são administrativas, mas podem ser o primeiro passo para realocar equipes e produção. Como apurou a AFP: "As tensões diminuíram um pouco, uma vez que o governo central da Espanha no mês passado assumiu o controle direto da região Nordeste e agendou as eleições regionais em dezembro, mas muitas empresas da Catalunha ainda sentem a necessidade de se proteger contra a incerteza".
Um empresário, que possui uma pequena loja de vinhos e bebidas espirituosas, explicou que suas vendas caíram 30% desde o referendo da Catalunha. Em resposta, ele criou uma empresa de distribuição duplicada em Madri. Seus produtos ainda serão produzidos na Catalunha, mas terão um endereço em Madrid.
"Não iremos vender mais se não fizermos isso", disse ele. "Esta é uma decisão que você toma quando não tem outra escolha". Ele, como outros executivos de empresas, pediu anonimato na reportagem da AFP, devido à sensibilidade do assunto.
Outra empresa de distribuição de medicamentos está deixando Barcelona e se estabelecendo em Sevilha. "Os pacientes dizem ‘me dêem um produto que não seja catalão’. Isso nunca aconteceu antes”, disse o diretor da empresa à AFP. Essa mudança também é projetada para garantir que a empresa permaneça dentro do quadro legal da União Europeia. "Nós iríamos à falência porque os medicamentos que importamos estarão sujeitos a direitos alfandegários", disse ele.
Medo de boicotes são comuns entre as companhias que têm mudado suas sedes, informou à AFP Enric Rius, especialista em impostos que ajudou várias empresas a fazerem mudanças.
E essa raiva vai nos dois sentidos. Quando os grandes bancos da Catalunha decidiram deixar Barcelona, Aleix Pons i Coll, vice-presidente da empresa de seguros Previsio, sentiu "raiva e dor". Ele disse que procurará outras opções para fazer negócios. "Mesmo com relutância, podemos decidir não trabalhar mais com [bancos] que saem, e se concentrar nos que permanecem", disse Pon i Coll à AFP.
Por enquanto, o primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, está exortando as empresas a permanecerem na Catalunha. Mas é algo difícil de fazer. "Existe a percepção de que essa sociedade continuará ignorando as leis, e isso é perigoso para a atividade comercial", disse o chefe da empresa de distribuição de medicamentos à AFP.
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â Ideias (@ideias_gp) November 30, 2017