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Evolução

Desejo de igualdade

 | Ilustração: Robson Vilalba
(Foto: Ilustração: Robson Vilalba)

Nova York - Entre os maiores executivos da América hoje, de acordo com um estudo encomendado pelo New York Times, o salário médio anual é de cerca de US$ 10 milhões, com crescimento de 12% ao ano. Ao mesmo tempo, o resto dos Estados Unidos da América luta contra um desemprego miseravelmente al­­to, salários estagnados e a pior cri­­se econômica desde a Grande De­­pressão.

Talvez a desigualdade de renda seja um problema temporário e moedinhas brilhantes logo chovam sobre todos nós. Mas se você estiver se sentindo irritado e incomodado com a prodigalidade dos que têm, quando você não tem um emprego, se você se sente tentado a insultar o mundo corporativo, os pesquisadores que estudam a evolução da organização social humana dirão que isso mal os surpreende.

Analistas baseados em Darwin defendem que o homo sapiens tem um desgosto nato por extremos hierárquicos, legado de nossa longa pré-história nômade como bandos fortemente unidos vivendo por regras de união adaptadas à savana: a crença em igualdade e reciprocidade, uma capacidade para empatia, controle de impulsos e uma disposição ao trabalho cooperativo sem equivalentes entre os nossos parentes primatas mais inteligentes.

Conforme apontado por Mi­­chael Tomasello, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolucio­­nista, você jamais verá dois chimpanzés carregando um tronco juntos. O advento da agricultura e da vida sedentária podem ter jogado alguns macacos feudais e mo­­narcas na mistura, mas teóricos evolucionistas dizem que nossas tendências igualitárias básicas permanecem.

Estudos descobriram que a se­­de por igualdade tem raízes profundas. Conforme Ernst Fehr, da Universidade de Zurique, e seus colegas relataram no periódico Na­­ture, por volta dos 6 ou 7 anos de idade, as crianças são devotas ze­­losas da divisão em partes iguais das coisas, e escolherão castigar aqueles que tentarem pegar mais do que sua cota aritmeticamente adequada de chocolates e jujubas, mesmo que isso signifique que quem castiga tenha de sacrificar sua própria porção das guloseimas.

Numa pesquisa feita em seguida com crianças mais velhas e adolescentes, ainda a ser publicada, Fehr e seus colegas descobriram uma compreensão com maio­­res nuances da noção de igualdade, um reconhecimento de que al­­gum grau de desigualdade possa fazer sentido: a criança que estuda toda noite merece uma nota ma­­ior que a preguiçosa. Ainda assim, diz Fehr, há limites para a tolerância adolescente. "‘Um para mim, dois para você’" não é mau", disse Fehr. "Mas ‘um para mim, cinco para você’ pode não ser aceito".

Visceral

Uma noção de igualdade é tanto ce­­rebral quanto visceral, cortical e límbica. No periódico PloS Biolo­­gy, Katarina Gospic, do Centro Osher do Instituto Karolinska, em Esto­­colmo, e seus colegas analisaram tomografias cerebrais de 35 indivíduos enquanto jogavam o fa­­mo­­so jogo do ultimato, em que os par­­ticipantes barganham so­­bre co­­mo dividir um valor fixo de dinhei­­ro.

Imediatamente após ouvir um oponente propor uma divisão de "80% para mim, 20% para você", os indivíduos analisados demonstraram um surto de atividade da amígdala cerebelosa, de onde parte a raiva e a agressão, seguido por uma estimulação dos domínios cor­­ticais superiores associados com introspecção, resolução de conflito e seguimento de regras; e 40% das vezes, eles rejeitaram o acordo, com raiva, considerando-o in­­jus­­to.

O primeiro e rápido movimento límbico provou ser crucial. Dada uma droga ansiolítica leve que suprimia a resposta da amígdala, os indivíduos ainda diziam que consideravam injusta a divisão 80–20, mas sua predisposição a rejeitá-la caiu pela metade.

"Isso indica que o ato de tratar as pessoas de modo justo e implementar justiça na sociedade é algo com raízes evolucionistas", disse Gospic. "Aumenta nossa chance de sobrevivência".

Tradução de Adriano Scandolara.

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