Dois medidores de radioatividade foram construídos no pátio da escola de Omika, ao lado da área de exclusão da central de Fukushima e onde, quase um ano depois do acidente nuclear, 90 de seus 200 alunos voltaram a estudar graças aos trabalhos de despoluição.
Nesse colégio na cidade de Minamisoma, a 25 quilômetros dos reatores nucleares, é possível ver o começo da área restrita, campos desertos onde os poucos carros que circulam pertencem aos oficiais do Governo e os responsáveis pelos trabalhos de limpeza.
O acidente atômico que há um ano devastou a região fez com que 60 mil dos 71 mil moradores de Minamisoma fossem embora por medo da radioatividade, deixando um cenário de ruas vazias, comércios fechados e escolas desertas.
O diretor do colégio de Omika, Katsushige Hirama, foi um dos que ficou na cidade: "Houve um momento em que só havia 40 alunos, que foram transferidos para outro colégio a 20 quilômetros daqui, para uma área considerada mais segura", explicou à Agência Efe.
Agora, na quadra da escola ressoa novamente o alvoroço de quase cem crianças entre seis e 12 anos, algumas delas com máscaras, que riem e aplaudem um show de mágica organizado para elas em um palco improvisado.
Garantir que as condições fossem seguras para trazer de novo os alunos não foi fácil: foram os próprios professores e um grupo de pais que, entre setembro e outubro, "despoluíram" o local com uma exaustiva limpeza de corredores, salas de aula e escritórios.
Nos jardins e pátios externos, o grupo, formado por 70 pessoas, retirou uma camada de terra de cinco centímetros de espessura e voltou a cobrir a superfície com terra limpa.
O resultado é agora visível: os dosímetros instalados na área externa da escola certificam que a radioatividade está entre 0,123 e 0,126 microsievert por hora, abaixo do nível registrado em alguns lugares de cidades como Tóquio, apesar da proximidade com a usina nuclear.
A despoluição foi executada com o apoio da Prefeitura local, que fez por conta própria uma campanha para limpar a cidade e atrair novamente os moradores, diante da falta de um plano concreto do Governo central.
Para isso, investiu mais de nove milhões de euros, disse à Efe o prefeito de Minamisoma, Katsunobu Sakurai, antes de destacar que, após o pânico inicial, mais de 43.500 pessoas voltaram à cidade.
A isso contribuiu em grande parte os trabalhos de despoluição: "No final de setembro, graças às tarefas de limpeza, reabrimos cinco colégios", explicou Sakurai, que espera que a reabertura das escolas aumente o número de moradores que queiram retornar.
De acordo com um estudo feito pelos próprios professores, no final de março terão retornado mais duas mil pessoas, entre elas cerca de 270 crianças.
"É um número que parece pequeno, mas para nós significa muito", disse o prefeito.
Enquanto em cidades como Minamisoma foram os moradores que puseram mãos à obra, no interior da vizinha zona de exclusão que cerca a usina nuclear as Forças de Autodefesa (Exército) também trabalham para despoluir os prédios municipais.
No entanto, ainda não há uma data para que os cerca de 80 mil desalojados dessa área possam retornar a suas casas: por enquanto, o primeiro objetivo é que a vida volte ao normal nas cidades que ficam próximas da área de exclusão.
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