No Líbano, as aulas são em inglês ou francês e representam um desafio enorme para os sírios, que são educados em árabe| Foto: Lynsey Addario/The New York Times

Em pé na frente da classe, Khalid Naji, um refugiado sírio de treze anos, pegou uma caneta hidrográfica vermelha e começou a copiar no quadro branco a frase em inglês que tinha criado no caderno: "Rana não xoga futebol, mas ele escrevendo estória".

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O objetivo do programa extracurricular, realizado aqui na região central do Líbano, é preparar os jovens refugiados para as escolas públicas. As aulas, ministradas em inglês ou francês, representam um desafio e tanto, já que os sírios são educados em árabe.

Khalid se sentou e disse que inglês era fácil, mas sua mãe, Manal Naji, explicou depois que ele repetiu um ano, em 2012, na escola que frequenta. "Ele não entendia o que o professor falava. Aliás, continua não entendendo. Estou preocupada porque em Damasco ele era um dos primeiros da classe."

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Mas pelo menos o filho dela está matriculado. Segundo o UNICEF, dos 2,3 milhões de refugiados sírios registrados na região, cerca de 865 mil são crianças e 70 por cento delas não estão na escola — e muitas simplesmente não conseguem se matricular em sistemas que estão tendo dificuldades para absorver o grande número de estrangeiros.

Entre os que conseguem uma vaga, muitos não conseguem comparecer regularmente por causa dos custos ou de questões de segurança; outros não conseguem se adaptar ao novo ambiente, ao novo currículo e, no caso do Líbano, ao novo idioma. Há também os que trabalham para ajudar os pais cujas economias foram gastas na fuga.

Algumas crianças têm aulas fora da escola, mas a grande maioria passa o dia fazendo pouco ou nada nos acampamentos ou comunidades que abrigam os refugiados no Líbano, na Jordânia, na Turquia, no Iraque ou no Egito. Especialistas já alertam para a possibilidade de uma geração inteira perdida, ou seja, uma das consequências mais graves da guerra.

"Se o problema não for solucionado, as crianças vão perder a esperança, principalmente os adolescentes", afirma Maria Calivis, diretora regional do UNICEF, "vão perpetuar a violência que estão presenciando e perder todo o conhecimento que um dia será necessário para reconstruir a Síria".

Antes da guerra, 80 por cento das crianças sírias em idade escolar estavam matriculadas, número considerado alto para os padrões do Oriente Médio, diz Calivis. Isso porque, na década anterior, o governo tinha feito da educação sua prioridade, principalmente entre as meninas, além de construir escolas nas áreas mais carentes.

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Na Síria, o conflito já afastou 1,9 milhão da escola, o que corresponde a 40 por cento da população atual de crianças em idade escolar.

Por toda a região, muitas vezes o número de crianças sírias é tão alto que faz dobrar o de alunos em escolas já superlotadas; o resultado é a criação de turnos vespertinos, o improviso de novas salas de aula e a contratação de novos professores.

No Líbano — país saturado pelo influxo de um milhão de refugiados, ou o equivalente a 25 por cento de sua população — apenas treze por cento das crianças sírias estão matriculadas nas escolas públicas.

Cerca de 70 por cento dos libaneses cursam escolas particulares, legado de quinze anos de guerra civil; consequentemente, o sistema público está praticamente abandonado, sem investimentos suficientes. Calcula-se que haja 400 mil crianças sírias em idade escolar no Líbano, superando a população local de alunos da rede pública, que é de 300 mil.

Numa escola primária em Deddeh, vilarejo no norte do Líbano, 59 dos 546 alunos são sírios. História e Geografia são ensinadas em árabe; as outras matérias, em francês.

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"As crianças sírias não entendem nada em francês", diz Elham Ghalayani, assistente de direção. "Só as que estão no jardim de infância é que conseguem acompanhar."

"Muitas delas têm que superar outros obstáculos além do idioma para se matricularem na escola pública", explica Hani Jesri, que faz parte do Jusoor, um grupo de apoio privado formado por expatriados sírios. Em Beirute, ele oferece aulas de inglês para que elas possam se matricular nas instituições da capital.

Como muitas crianças refugiadas, Nour, uma garota de onze anos que tinha chegado ao Jusoor um dia antes, perdeu dois anos de estudo. Embora tenha concluído a segunda série na Síria, já se esqueceu como se lê e não sabe mais escrever o próprio nome. Mohammed, de dez anos, conta que depois da aula no Jusoor vai para o prédio abandonado onde sua família mora, descansa um pouco e depois sai para vender rosas na Rua Hamra, principal via comercial da capital, até a uma da manhã.

"Chego em casa e vou direto para a cama porque tenho que acordar às sete para ir para a escola", conta ele.