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Investigação

Dez mil em um ano: o que está por trás da chegada em massa de russas grávidas à Argentina

Aeroporto de Ezeiza, na Grande Buenos Aires, por onde russas grávidas têm desembarcado na Argentina: segundo as autoridades, mulheres buscam passaporte argentino para os filhos, que dá acesso a 171 países sem visto (Foto: EFE/Matías Campaya)

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Desde a semana passada, a alta inflação e as últimas invenções do peronismo dividem o noticiário na Argentina com um caso insólito: a chegada em massa de mulheres russas grávidas ao país.

Segundo as autoridades argentinas, desde o início da guerra da Ucrânia, no final de fevereiro de 2022, cerca de 10,5 mil russas em gestação de mais de 30 semanas entraram no país sul-americano.

Mais da metade delas (5,8 mil) chegou nos últimos três meses. A principal hipótese levantada pelo serviço de migração é que essas mulheres estão vindo ao país porque a Argentina não exige visto de entrada e porque buscam segunda cidadania para os filhos, num momento em que cidadãos russos sofrem restrições de visto como represália ao país de Vladimir Putin pela invasão à Ucrânia.

O passaporte argentino dá acesso a 171 países sem visto, incluindo os da União Europeia, o Reino Unido e o Japão, e permite a obtenção de um visto de dez anos para os Estados Unidos.

A meta é obter a segunda cidadania apenas para os filhos ao fazê-los nascer em território argentino – os pais estrangeiros de um bebê nascido na Argentina só podem obter a nacionalidade após dois anos de residência ininterrupta no país. Cerca de 7 mil das russas grávidas que entraram na Argentina de um ano para cá já não estão mais no país.

“Estamos felizes que venham morar na Argentina, mas o problema é que elas chegam, têm filhos, os registram como argentinos, deixam uma procuração para outros responsáveis, vão embora e nunca mais voltam. São pessoas que estão ‘usando’ nosso passaporte”, afirmou a chefe do setor de migrações do governo argentino, Florencia Carignano, à rede de televisão Todo Noticias.

Carignano explicou que essas mulheres, que chegam sempre em momento avançado da gestação e geralmente alegam o objetivo de fazer turismo (embora não saibam explicar em qual ponto do território argentino), não têm passagem de volta, o que denuncia a intenção de dar à luz no país sul-americano.

O ritmo de chegada é frenético: na sexta-feira (10), 83 russas chegaram num voo da Ethiopian Airlines, 16 delas grávidas, ao aeroporto de Ezeiza, na Grande Buenos Aires.

Também na semana passada, seis russas gestantes foram retidas no terminal metropolitano por terem mentido durante os trâmites migratórios. Elas estavam num voo que transportava ao todo 33 grávidas do país eurasiático. Um juiz federal autorizou a entrada das seis mulheres na Argentina por “questões humanitárias”.

A Polícia Federal está investigando o caso. Na quinta-feira, durante uma operação, foram apreendidos euros, dólares, celulares, notebooks e documentos de imigração em dois apartamentos de luxo na região de Puerto Madero, na capital argentina.

Fontes policiais informaram ao Clarín que esse grupo criminoso cobrava entre US$ 20 mil e US$ 35 mil de famílias russas abastadas para tratar de uma série de serviços: traslados, hospedagem, clínica para atendimento das gestantes e realização do parto e tradutores, além de trâmites para obtenção da cidadania em “tempo recorde”. Três suspeitos de integrar o grupo tiveram seus passaportes retidos.

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