O "Dia de Fúria" convocado pela Irmandade Muçulmana em protesto contra a morte de 638 pessoas na remoção de dois acampamentos de manifestantes começou com tiros, bombas de gás lacrimogêneo e a morte de pelo menos mais 29 pessoas. Milhares de partidários do presidente deposto Mohamed Mursi marcharam ontem numa Cairo repleta de tanques, sobrevoada por helicópteros, num clima de alta tensão.
As forças de segurança egípcias reforçaram a proteção de "instalações vitais" e vários pontos da capital, incluindo todos os acessos à emblemática Praça Tahrir e pontes sobre o Rio Nilo. De acordo com a tevê estatal, 12 pessoas morreram no Cairo e dezenas estão feridas. Em Ismailiya, no norte do país, quatro manifestantes teriam sido mortos pela polícia, e fontes médicas falam em mais oito mortos na cidade de Damietta e cinco em Fayoum.
Imagens transmitidas pela televisão mostram atiradores de elite disparando contra manisfestantes na capital egípcia. Tiros foram ouvidos da Praça Ramsés, onde estão concentrados seguidores e opositores de Mursi. A marcha começou após as orações de meio-dia e partiu de várias mesquitas em direção à praça. A Irmandade Muçulmana fala em pelo menos 25 mortes só na Ramsés.
Mais uma vez as mesquitas se transformam em hospitais improvisados e necrotérios. Um repórter do jornal britânico The Guardian contou 20 corpos em um templo perto da Ramsés o que elevaria ainda mais o número de vítimas.
A Tahrir, cenário das manifestações que derrubaram o ditador Hosni Mubarak, foi bloqueada por tanques, mas correspondentes estrangeiros relataram o som de disparos de armas automáticas e o uso de gás lacrimogêneo em seu entorno. Manifestantes escreviam seus nomes nos braços para o caso de serem mortos.
Delegacia
Testemunhas contam que a manifestação no Cairo começou pacífica, até que uma delegacia foi apedrejada. Pessoas que apoiam os militares entraram em confronto com os manifestantes e a situação logo degenerou, com a polícia usando gás lacrimogêneo e armas automáticas.
O grupo Tamarod, que convocou protestos de oposição ao ex-presidente islâmico e apoiou o novo governo interino, também pediu a seus seguidores que saíssem às ruas para se manifestar contra os islâmicos e mostrar respaldo às manobras militares.
Europa
A União Europeia se reunirá na semana que vem para avaliar novas medidas contra o governo interino do Egito por causa da violência contra os aliados do presidente deposto Mohamed Mursi. A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, afirmou ontem que pediu à União Europeia que avalie "medidas apropriadas" em relação à violência no Egito. A convocação de reunião foi feita após conversa entre o presidente François Hollande, da França, e a chanceler Angela Merkel, da Alemanha.
Resistência - Após confrontos, islamitas pedem uma semana de protestos
Folhapress
Após a série de protestos contra o governo interino do Egito, realizada ontem, os partidários do presidente deposto Mohamed Mursi convocaram mais uma semana de protestos pelo país começando a partir de hoje.
"Chamamos o povo egípcio e as forças nacionais para protestar diariamente, até que o golpe acabe", diz o grupo islâmico em um comunicado, em alusão ao ato que derrubou o presidente islâmico em 3 de julho.
As manifestações de ontem terminaram com as últimas orações da noite. E os confrontos deixaram pelo menos 72 mortos e dezenas de feridos.
O governo egípcio disse que enfrenta um "plano terrorista" da Irmandade Muçulmana e convocou os cidadãos à unidade nacional, apelando para que não atendam as chamadas das divisões islamitas.