Trabalhadores atingidos pela perda de poder aquisitivo e pelo desemprego recorde realizaram protestos por toda a Europa na quarta-feira, feriado do Dia do Trabalho, na esperança de convencer os governos da zona do euro a abrandarem as políticas de austeridade e adotarem mais medidas de estímulo ao crescimento.
Milhares de pessoas saíram às ruas de Madri, ocupando totalmente a Gran Via, importante avenida comercial da cidade. Os manifestantes levavam bandeiras e cartazes com dizeres como "a austeridade arruína e mata" ou "reformas são roubo".
"O futuro da Espanha parece terrível, estamos retrocedendo com este governo", disse a ex-funcionária pública Alicia Candelas, 54 anos, desempregada há dois anos.
A economia espanhola encolhe há sete trimestres consecutivos, e o desemprego atinge o nível recorde de 27 por cento.
"Nunca houve um 1º de Maio com mais razões para sair às ruas", disse Candido Mendes, líder da UGT, uma das duas centrais sindicais que convocaram trabalhadores e desempregados a aderirem aos mais de 80 protestos programados no país.
Na Grécia, uma greve geral de 24 horas paralisou trens, balsas, bancos e serviços hospitalares. Cerca de mil policiais foram mobilizados em Atenas, mas os protestos na cidade foram pacíficos, reunindo cerca de 5 mil pessoas. "Não vamos nos tornar escravos, saiam às ruas!", dizia uma faixa na manifestação.
Antes, centenas de manifestantes filiados ao partido comunista KKE ergueram os punhos cerrados durante manifestação na praça Syntagma, em frente ao Parlamento, cenário de violentos confrontos entre policiais e ativistas em protestos anteriores.
A Grécia está no sexto ano consecutivo de recessão.
"A economia não será reavivada pelos bancos falidos e pelo sistema político corrupto, e sim pelos trabalhadores e sua luta", disse Alexis Tsipras, líder do partido oposicionista Syriza, aos manifestantes.
"Nossa mensagem hoje é muito clara: 'Basta dessas políticas que ferem o povo e tornaram os pobres mais pobres'", disse Ilias Iliopoulos, secretário-geral do Adedy, sindicato do funcionalismo público.
A participação nos protestos deste ano foi bem inferior à de 2012, quando 100 mil pessoas ocuparam a praça Syntagma. O Dia do Trabalho cai poucos dias antes da Páscoa ortodoxa, por isso as escolas estão fechadas e muita gente foi viajar.
Na Itália, protestos reuniram dezenas de milhares de pessoas nas grandes cidades, exigindo medidas do novo governo de Enrico Letta contra o desemprego (que chega a 40 por cento entre os jovens), o fim de medidas de austeridade e combate à evasão tributária.
Os protestos em geral foram pacíficos, mas em Turim manifestantes atiraram ovos preenchidos com tinta preta na polícia.
O papa Francisco usou a data para fazer um apelo aos governos pelo combate ao desemprego. "O trabalho é fundamental para a dignidade de uma pessoa", afirmou o pontífice argentino a milhares de pessoas que assistiam à audiência semanal dele na praça de São Pedro, no Vaticano. "Penso em quantos, e não só os jovens, estão desempregados, muitas vezes devido a uma concepção puramente econômica da sociedade, que busca o lucro egoísta, além dos parâmetros da justiça social."
Os tradicionais desfiles do 1º de Maio acontecem também fora da zona do euro. Na Rússia, cerca de 1,5 milhão de pessoas são esperadas para o evento - o que é bem menos do que os milhões que costumavam desfilar na época soviética.
Em Istambul, a tropa de choque da polícia turca usou gás lacrimogêneo e jatos de água para dispersar uma multidão. Um fotógrafo da Reuters disse que pelo menos seis pessoas ficaram feridas.
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