Paris Enquanto os estudantes saiam ontem novamente em passeata em Paris e em 30 cidades francesas, representantes das cinco maiores confederações sindicais aceitaram o convite do primeiro-ministro Dominique de Villepin para discutir, hoje à tarde, a controvertida lei do primeiro emprego. Atos de vandalismo eclodiram em Paris, além de Marselha e em Rennes. Os chamados bagunceiros ("casseurs"), marchando fora dos cordões de segurança dos manifestantes, agrediram fotógrafos e estudantes e entraram em confronto com policiais.
Villepin enviou carta aos sindicalistas convidando-os à abertura de um diálogo, que foi de imediato aceito. Na carta, redigida de modo firme e elegante, ele lembra que governos e sindicatos têm a mesma preocupação com o desemprego dos jovens.
O encontro de hoje no palácio Matignon, sede da chefia do governo francês, será precedido de consultas entre os sindicalistas e lideranças estudantis. A lei que vem sendo contestada ainda não foi promulgada. Ela facilita a contratação experimental de recém-formados por um período de 24 meses, com menores encargos e sem alguns direitos trabalhistas. Os jovens podem ser demitidos sem justificativa.
Os sindicatos não têm procuração dos cerca de 450 líderes estudantis, que atuam de modo inorgânico desde o início dos protestos, há duas semanas. As três associações de universitários e as duas de secundaristas representam apenas uma parcela da mobilização, orientada sobretudo por redes horizontais que se mobilizam por meio da internet.
Mesmo assim, os sindicalistas a serem recebidos pelo premiê publicaram comunicado conjunto em que exigem "a retirada da lei do primeiro emprego antes de qualquer negociação".
Observadores acreditam que o governo, diante de interlocutores institucionais, poderá anunciar concessões que esvaziem a "jornada de ação" da próxima terça-feira, que prevê novos protestos e greves em serviços públicos estatais, como trens e metrôs. Não se fala na França em greve geral.
A passeata de Paris, da praça da Itália à Esplanada dos Inválidos, onde se situa a torre Eiffel, reuniu em torno de 30 mil manifestantes. O Ministério do Interior designou 3 mil policiais. Os incidentes começaram quando a passeata estava em Montparnasse. Cerca de 30 automóveis foram danificados por "casseurs" que chegaram de ruas transversais e não estavam participando do ato público.
No momento da dispersão uma centena desses autônomos passou a atirar pedras e latas sobre policiais e a queimar portas de edifícios nas imediações do Ministério das Relações Exteriores.