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falta vitamina c

Dietas pouco variadas fazem o escorbuto, doença dos marinheiros, reaparecer

Entre os alimentos que evitam o aparecimento do escorbuto estão as laranjas, morangos, brócolis, e kiwis | Daniel Castellano/Arquivo / Gazeta do Povo
Entre os alimentos que evitam o aparecimento do escorbuto estão as laranjas, morangos, brócolis, e kiwis (Foto: Daniel Castellano/Arquivo / Gazeta do Povo)

O escorbuto, uma doença historicamente associada com os marinheiros do velho mundo que realizavam longas viagens, está reaparecendo na Austrália devido a dietas pouco variadas, segundo autoridades de Saúde.

Causada pela deficiência de vitamina C, a condição costumava ser uma maldição comum – e muitas vezes fatal – entre os navegantes que passavam meses sem consumir frutas e vegetais frescos. Hoje considerado raro, o escorbuto ressurgiu devido a maus hábitos alimentares, segundo Jenny Gunton, que dirige o Centro de Pesquisa sobre Diabetes, Obesidade e Endocrinologia do Instituto Westmead em Sydney.

Ela descobriu a doença após observar em vários dos seus pacientes feridas que não cicatrizavam. “Quando perguntei sobre a dieta deles, uma pessoa disse que estava comendo poucas frutas e vegetais frescos, e o resto comia quantidades adequadas de vegetais, mas estavam cozinhando demais os alimentos, o que destrói a vitamina C”, disse a pesquisadora.

“Isso mostra que uma pessoa pode ingerir muitas calorias e mesmo assim não receber nutrientes suficientes”, acrescentou. O diagnóstico de escorbuto em 12 pacientes foi feito com base em exames de sangue e sintomas. Todos foram curados com uma simples ingestão de vitamina C.

A falta de vitamina C pode levar a uma formação deficiente do colágeno e de tecidos conjuntivos, causando hematomas, sangramento na gengiva, manchas vermelhas na pele, dor nas articulações e dificuldade de cicatrização.

Entre os alimentos que evitam o aparecimento do escorbuto estão as laranjas, morangos, brócolis, kiwis, pimentões e toranjas, mas o cozimento em excesso pode destruir nutrientes essenciais.

“Não podia acreditar”

Penelope Jackson foi uma das pacientes diagnosticadas com a doença, e disse que ficou perplexa. “Eu não podia acreditar. Pensei: ‘peraí, o escorbuto desapareceu há séculos’”, disse ao Sydney Morning Herald.

“É algo que você associa com a Primeira Frota e os dias de Arthur Phillip e do capitão [James] Cook. Você não espera que ele esteja presente no século XXI”. Phillip foi o primeiro governador do estado de Nova Gales do Sul, que navegou com a Primeira Frota de colonizadores da Inglaterra em 1788, enquanto o navegador e explorador Cook é reconhecido por ter sido um dos primeiros a entender a relação entre frutas frescas e escorbuto.

Gunton, que publicou sua pesquisa sobre o ressurgimento da doença na revista internacional Diabetic Medicine, disse que pacientes obesos ou acima do peso também podem sofrer essa condição. O artigo relatou que não havia nenhum padrão social na incidência da doença e que os pacientes com dietas pobres pareciam ter origens socioeconômicas muito variadas.

“Esse resultado sugere que, apesar da grande quantidade de recomendações de dieta prontamente disponíveis para a comunidade, ainda há muitas pessoas (...) que não estão recebendo as mensagens”, disse Gunton. “O corpo humano não consegue sintetizar a vitamina C, por isso temos de comer alimentos que a contêm”, advertiu a autora.

Hoje em dia, as autoridades de saúde não costumam fazer exames para diagnosticar o escorbuto, e o estudo de Gunton aconselha os médicos a levarem em conta este problema potencial, especialmente nos pacientes com diabetes. “Principalmente se seus pacientes apresentam úlceras que não cicatrizam, facilidade para ter hematomas ou sangramento de gengivas sem causa evidente”, disse.

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