Ronda Fox finalmente recebeu a notícia em meados de junho, três meses depois: o governo dos Estados Unidos aprovou a sua candidatura para empregar mais de uma dúzia de trabalhadores estrangeiros temporários para sua empresa familiar de jardinagem, em Aurora (Centro-oeste dos EUA). Ela esperava ter sua equipe até o 1 de abril. "Antes tarde do que nunca", disse Fox.
Em Centennial, bem próximo a Aurora, Phil Steinhauer enfrentou o mesmo desafio de contratação para o seu negócio de paisagismo. Op edido para contratar 150 trabalhadores estrangeiros temporários foi selecionado por meio do sorteio federal na primeira rodada e seus empregados estavam a postos quando a temporada começou.
Steinhauer, no entanto, está longe de estar feliz com a forma que teve que adotar para conseguir preencher essas vagas. "Não dá para estruturar um negócio com base em uma loteria", disse ele.
O que os dois empresários têm em comum é a necessidade do programa de vistos H-2B, que permite que trabalhadores sem qualificação provenientes do México, das Filipinas, da Jamaica e de dezenas de outros países, tenham empregos temporários não relacionados à agricultura nos Estados Unidos.
Amplo debate
A utilização de mão de obra estrangeira em trabalhos sazonais – empregos com salários baixos que os americanos normalmente desprezam – é constantemente debatida. Mas um mercado de trabalho com pouca disponibilidade de mão de obra e as tensas políticas de imigração acrescentaram nova urgência a essa questão em um ano eleitoral, quando republicanos e democratas lutam para ter o controle no Congresso.
Sindicatos e os que se opõem à imigração argumentam que o programa achata salários e priva os americanos de empregos. Grupos de defesa afirmam que os trabalhadores estrangeiros são frequentemente explorados. Já os empregadores insistem que a recusa de enfrentar a escassez de trabalhadores só incentiva as empresas a contratar imigrantes sem autorização com salários abaixo do mercado.
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Mas, neste ano os conflitos se intensificaram. As taxas recordes de empregabilidade deixaram paisagistas, restaurantes, hotéis, parques de diversões e outros negócios lutando por trabalhadores com pouca formação para serviços sazonais. As mudanças nas regras que regem o programa pegaram muitos empregadores de surpresa, ameaçando a indústria de caranguejos em Maryland (Noroeste dos EUA) e os retiros para turistas no Maine (Noroeste dos EUA).
O programa de vistos também acirra o debate sobre imigração. Para Steinhauer, "é uma questão trabalhista que permeia o debate sobre a imigração porque as pessoas vêm de países estrangeiros, e os EUA estão muito divididos em relação a esta questão". O Congresso cortou o número anual de vistos H-2B para 66 mil – uniformemente divididos entre o inverno e verão.
Mudança nas regras
Trabalhadores de anos anteriores costumavam ser excluídos da quota, mas o Congresso parou com essa prática em 2017, em resposta às queixas de que os estrangeiros teriam minado o trabalho dos americanos. Este ano, o tradicional "quem chega primeiro, leva" foi substituído por um sistema de loteria depois que o governo ficou sufocado com tantos requerimentos. Alguns usuários de longa data como Fox, que disse ter preenchido o formulário para sua candidatura às 12h01 de 1/ de janeiro, ficaram de fora.
Em maio, após solicitações frenéticas, o departamento de segurança interna concordou em emitir 15 mil vistos adicionais. Desta vez, Fox teve sorte e conseguiu uma dúzia de funcionários, embora sua equipe, já veterana de outras temporadas, não conseguiria chegar do México em junho.
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As empresas têm que provar que não conseguiram preencher esses postos de trabalho. "Não dá para encontrar trabalhadores confiáveis com salário de US$15 (R$ 58) a hora", a faixa salarial dominante no Colorado, disse Fox. A região tem uma taxa de desemprego de 2,5%, por isso, quando se trata de contratar, ela disse: "Não há abelhas operárias suficientes por aqui".
Riscos para as empresas
Contadora pública certificada, Fox balança a cabeça quando ouve economistas insistirem que a teoria dita que os salários devem aumentar até que estejam no patamar que atraia trabalhadores. Sua empresa, a All Seasons Landscaping, localiza-se nos arredores de Denver. Lá, há uma proporção bastante elevada de pessoas com ensino superior completo e uma taxa de desemprego extraordinariamente baixa; o salário médio de trabalhadores que não são independentes é em média de U$ 63 mil (R$ 244 mil) ao ano .
O trabalho com jardinagem é duro. Escavar a terra e lidar com equipamentos pesados sob um calor escaldante resulta em problemas nas costas e mãos machucadas. Os trabalhadores sem qualificação preferem ganhar um salário similar fazendo sanduíches ou trabalhando em um armazém com ar-condicionado.
"Colocamos um anúncio de US$ 5 mil (R$ 19,4 mil) no The Denver Post (o jornal local( e não tivemos retorno", disse Fox. O pagamento de um salário alto o suficiente para atrair trabalhadores locais a colocaria fora do mercado, afirmou.
Como Fox e outros paisagistas, Steinhauer assinou contratos com clientes no ano passado, com base no pressuposto de que sua equipe ganharia aproximadamente US$15 por hora. "Esses são postos de trabalho para pessoas sem qualificação. Você pagaria US$50 para plantar um arbusto em seu jardim?", questionou ele.
"Mesmo com a economia caminhando bem como está, eu não conheço muitas famílias que incentivem seus filhos a trabalhar com jardinagem. E quem gostaria de ter um emprego onde você é demitido em novembro e só volta na próxima temporada?", acrescentou.
Agenda de Trump
Criar empregos, especialmente para os trabalhadores de escritório negligenciados e reduzir a imigração têm sido pautas centrais na agenda do presidente Donald Trump, além de grande chamariz para seus apoiadores. As taxas mais baixas de desemprego embasam o discurso republicano de que a economia está melhorando. E a posição cada vez mais dura quanto à imigração fornece um quadro para as políticas de administração em relação aos imigrantes legais, assim como aos ilegais.
Ao mesmo tempo, muitos empresários e pequenos comerciantes dizem ter encontrado um espírito amigo na imagem de um empresário que virou presidente e que, portanto, entende-os e age rapidamente frente às suas necessidades. Afinal, os trabalhadores H-2B são contratados regularmente em Mar-a-Lago, seu clube de campo em Palm Beach, Flórida, assim como em outras propriedades de Trump.
Steinhauer e Fox disseram que não culpam Trump pelas falhas no programa H-2B, observando que havia problemas semelhantes nas gestões dos presidentes Barack Obama e George W. Bush. "Eu culpo o Congresso. A questão é tóxica. Todos na política têm medo de tomar qualquer atitude", disse Fox.