A presidente Dilma Rousseff reafirmou ontem a posição contrária do Brasil a intervenções militares em países em conflito sem autorização do Conselho de Segurança da ONU, num claro recado às potências internacionais. Antecipando-se à crescente pressão por uma ofensiva ocidental para derrubar o regime do ditador Bashar Assad, Dilma afirmou não haver solução militar para "a gravíssima situação" da Síria e que ações paralelas às Nações Unidas são ilegais e inaceitáveis.
O governo brasileiro teme que se repita em território sírio uma intervenção militar como a da Líbia, que levou à queda do ditador Muamar Kadafi, e avalia que a coalizão liderada por França, Reino Unido e EUA extrapolou as atribuições do Conselho de Segurança:
"Não podemos permitir que este Conselho seja substituído, como vem ocorrendo, por coalizões que se formam à revelia, fora de seu controle e à margem do Direito internacional. O uso da força sem autorização do Conselho, uma clara ilegalidade, vem ganhando ares de opção aceitável. Mas, definitivamente, não é", afirmou a presidente em seu discurso, que abriu a 67ª Assembleia Geral da ONU.
Dilma disse que o impasse no Conselho (China e Rússia têm vetado sanções mais duras à Síria) não pode servir de justificativa para uma ação armada e defendeu a diplomacia como melhor e "única opção".
Já o presidente da França, François Hollande, afirmou que o regime sírio não tem mais espaço na comunidade internacional e defendeu uma ação mais direta das Nações Unidas nas áreas já sob controle da oposição:
"Sem mais demora, conclamo as Nações Unidas a oferecer imediatamente ao povo sírio todo o apoio que nos pedirem e a proteger as áreas liberadas", afirmou Hollande, anunciando também que a França está pronta para endurecer as sanções contra o Irã.
A presidente foi bastante aplaudida ao repudiar a escalada do preconceito ao Islã no Ocidente, numa referência ao vídeo ofensivo a Maomé que desencadeou violentos protestos no mundo árabe, e condenou os "atos de terrorismo" que resultaram na morte de diplomatas americanos na Líbia. Dilma também voltou a defender o fim do embargo econômico a Cuba e a criação do Estado palestino.