O assessor para assuntos internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, transmitiu duas mensagens da presidente Dilma Rousseff ao líder venezuelano Nicolás Maduro, durante sua visita a Caracas no último dia 20 deste mês.
Além da carta pedindo transparência nas eleições parlamentares de 6 de dezembro na Venezuela escrita por Dilma, Garcia disse a Maduro que a presidente brasileira não gostou do fato de as autoridades daquele país não terem se manifestado oficialmente sobre o veto ao nome do jurista Nelson Jobim para participar da missão de observadores da União de Nações Sul-Americanas (Unasul).
Ex-ministro da Justiça e ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Jobim iria chefiar a missão. Com o veto, negado pelo governo Maduro, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que já vinha se queixando das restrições impostas pelas autoridades daquele país em termos de locais de votação, entre outros itens, acabou desistindo de ir à Venezuela.
O recado de Garcia foi dado de forma sutil. O foco principal da reunião foi a carta de Dilma, que dizia que o Brasil estava preocupado com a isenção das eleições venezuelanas. Ela argumentou que, com essa inflexão à direita que tem sido verificada nos países da América Latina, não é bom que o pleito venezuelano seja encoberto por suspeições.
A carta de Dilma foi encaminhada a Maduro em uma sexta-feira, dois dias antes de o empresário Maurício Macri vencer as eleições na Argentina, derrotando o candidato kirchnerista Daniel Scioli, no domingo. No dia seguinte, Macri anunciou que proporá ao Mercosul a suspensão da Venezuela do bloco, sob a alegação de que a democracia não tem sido respeitada naquele país.
Essa proposta deverá ser feita aos países do bloco sul-americano no próximo dia 21 de dezembro, durante reunião de cúpula em Assunção, no Paraguai. O Brasil e o Uruguai tendem a se opor a esse pedido, sob o argumento de que Nicolás Maduro foi eleito democraticamente.
Já o Paraguai deve apoiar o presidente eleito argentino. Isto porque Maduro foi um dos principais articulares da suspensão dos paraguaios do bloco, por considerar um golpe de Estado a destituição do então presidente Fernando Lugo pelo Congresso daquele país.
Assassinato de opositor
O governo brasileiro condenou, em nota, o assassinato de Luis Manuel Díaz, opositor venezuelano dirigente do partido Ação Democrática (AD), e cobrou o governo de Nicolás Maduro para que mantenha a ordem durante o processo de eleições legislativas que acontece na Venezuela na próxima semana.
“Ao condenar com firmeza esse lamentável incidente, o governo brasileiro recorda que é da responsabilidade das autoridades venezuelanas zelar para que o processo eleitoral que culminará com as eleições no dia 6 de dezembro transcorra de forma limpa e pacífica, de modo a permitir que o povo venezuelano exerça com tranquilidade seu dever cívico e tenha plenamente respeitada sua vontade soberana”, diz a nota divulgada nesta sexta-feira pelo Ministério das Relações Exteriores.
Díaz foi morto a tiros na quarta-feira, durante um comício no Estado de Guárico, na região central da Venezuela.
Um dos líderes da coalizão de oposição Mesa de Unidade Democrática, o opositor discursava, ao lado de Lilian Tintori - mulher de um dos principais líderes da oposição, Leopoldo López, condenado a 14 anos de prisão- quando os tiros partiram de um carro que passou em alta velocidade.
A oposição atribui a morte a grupos armados vinculados ao PSUV, partido de Maduro, o que o presidente negou ontem veemente em um discurso.
A missão da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), que está na Venezuela para acompanhar o processo eleitoral, condenou o uso de violência nas eleições e cobrou a apuração dos fatos.
Na nota, o Itamaraty também cobra, ainda que em linguagem diplomática, a ação de Maduro contra a violência.
“O governo brasileiro confia em que o governo venezuelano atuará para coibir quaisquer atos de violência ou intimidação que possam colocar em dúvida a credibilidade do processo eleitoral em curso e a legitimidade dos resultados da votação.”
Apesar da linguagem diplomática, o governo brasileiro subiu o tom na condenação à Venezuela pela primeira vez desde o acirramento da crise política deste ano.
A nota foi negociada diretamente no Palácio do Planalto por instrução da presidente Dilma Rousseff. A intenção foi mostrar para a o governo de Nicolás Maduro que o país está passando dos limites aceitáveis pelo Brasil, hoje ainda o fiador da presença da Venezuela no Mercosul, informaram à Reuters duas fontes do governo.