As declarações do assessor internacional da presidência Marco Aurélio Garcia apoiando a decisão da Venezuela de adiar por tempo indeterminado a posse do venezuelano Hugo Chávez em seu terceiro mandato incomodaram a presidente Dilma Rousseff. Logo depois de Garcia dizer que o adiamento era constitucional e apoiado pelo Brasil, a presidente chamou seu auxiliar e pediu que não falasse mais no assunto. Dias depois, por intermédio de assessores, mandou um recado: o Brasil espera que, caso Chávez não sobreviva, sejam chamadas eleições o mais rapidamente possível.
A afirmação foi passada como sendo parte da conversa que Dilma teve com o vice-presidente venezuelano, Nicolás Maduro. O "pedido" da presidente, no entanto, não foi parte da conversa entre os dois, que se resumiu a troca de impressões sobre a situação venezuelana, conforme apurou a reportagem.
Depois da conversa com a presidente, Marco Aurélio passou a se recusar a tratar do assunto, apesar de ter sido enviado pela própria Dilma a Havana para saber da saúde de Chávez. A impressão de que o Brasil poderia deixar passar alguma atitude pouco democrática na Venezuela incomodou a presidente. Daí a decisão de mostrar que, se por hora o governo brasileiro acredita que a situação venezuelana não feriu as normas democráticas, qualquer tentativa de evitar uma eleição no caso de Chávez morrer ou estar permanentemente impedido, não seria aceita tão facilmente.
Por enquanto, o governo brasileiro apenas observa a situação venezuelana e não vê motivos para maiores pressões. Na última quinta-feira, em São Paulo, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, afirmou que o Brasil espera uma evolução "de acordo com a institucionalidade e com o mínimo de sobressaltos para que a sociedade venezuelana possa se reorganizar no prazo mínimo".
A avaliação no Itamaraty é que Nicolás Maduro, apontado por Chávez como seu sucessor em uma eventual eleição, não é dado a aventuras e dificilmente se envolveria em alguma tentativa assumir o poder à revelia da Constituição.