Dominicanos participam de caminhada pela recuperação do presidente Hugo Chávez, em Santo Domingo, capital da República Domincana| Foto: Orlando Barría/EFE

Pressão

Médicos preparam translado do presidente, afirma jornal espanhol

Agência Globo

Em meio ao hermetismo do Palácio de Miraflores sobre o estado de saúde do presidente Hugo Chávez, ontem circularam informações sobre um eventual traslado do líder venezuelano a Caracas, para que ele possa, finalmente, ser empossado e, imediatamente depois, transfira o poder a seu vice, Nicolás Maduro. Segundo o jornal espanhol ABC, os médicos cubanos do Centro de Investigações Médico-Cirúrgicas (Cimeq) de Havana, onde o chefe de Estado está internado desde 10 de dezembro, estão sofrendo fortes pressões para conseguir estabilizar clinicamente o presidente, já que Chávez não estaria em condições de enfrentar uma viagem de avião.

Paralelamente, em Caracas o jornalista Alberto Ravell, editor do site Lapatilla e ex-diretor do canal de tevê Globovisión, assegurou que nos últimos dias foram observados movimentos suspeitos no hospital militar da capital venezuelana.

"Isso poderia significar que estão se preparando para uma futura presença do presidente", disse Ravell.

Segundo o ABC, "fontes em contato com a equipe do hospital cubano Cimeq não descartam a possibilidade de que Chávez seja transferido em breve para o hospital militar de Caracas, onde, internado, juramentaria seu mandato e continuaria a avançar em seu câncer terminal. Aparentemente, já são feitas algumas preparações em Caracas". O jornal espanhol também informou sobre novas complicações que o presidente teria sofrido, entre elas um ataque cardíaco no último dia 5 de janeiro.

As versões sobre o real estado de saúde de Chávez são constantes. Em Havana, nem mesmo diplomatas de países amigos da Venezuela têm informações sobre a situação de Chávez.

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As declarações do assessor internacional da presidência Marco Aurélio Garcia apoiando a decisão da Venezuela de adiar por tempo indeterminado a posse do venezuelano Hugo Chávez em seu terceiro mandato incomodaram a presidente Dilma Rousseff. Logo depois de Garcia dizer que o adiamento era constitucional e apoiado pelo Brasil, a presidente chamou seu auxiliar e pediu que não falasse mais no assunto. Dias depois, por intermédio de assessores, mandou um recado: o Brasil espera que, caso Chávez não sobreviva, sejam chamadas eleições o mais rapidamente possível.

A afirmação foi passada como sendo parte da conversa que Dilma teve com o vice-presidente venezuelano, Nicolás Maduro. O "pedido" da presidente, no entanto, não foi parte da conversa entre os dois, que se resumiu a troca de impressões sobre a situação venezuelana, conforme apurou a reportagem.

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Depois da conversa com a presidente, Marco Aurélio passou a se recusar a tratar do assunto, apesar de ter sido enviado pela própria Dilma a Havana para saber da saúde de Chávez. A impressão de que o Brasil poderia deixar passar alguma atitude pouco democrática na Venezuela incomodou a presidente. Daí a decisão de mostrar que, se por hora o governo brasileiro acredita que a situação venezuelana não feriu as normas democráticas, qualquer tentativa de evitar uma eleição no caso de Chávez morrer ou estar permanentemente impedido, não seria aceita tão facilmente.

Por enquanto, o governo brasileiro apenas observa a situação venezuelana e não vê motivos para maiores pressões. Na última quinta-feira, em São Paulo, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, afirmou que o Brasil espera uma evolução "de acordo com a institucionalidade e com o mínimo de sobressaltos para que a sociedade venezuelana possa se reorganizar no prazo mínimo".

A avaliação no Itamaraty é que Nicolás Maduro, apontado por Chávez como seu sucessor em uma eventual eleição, não é dado a aventuras e dificilmente se envolveria em alguma tentativa assumir o poder à revelia da Constituição.