A Dinamarca e a Finlândia anunciaram nesta quinta-feira (22) que suspenderão as exportações futuras de armas para a Arábia Saudita, após uma decisão similar da Alemanha no início deste mês. Os anúncios dinamarquês e finlandês vêm na mesma semana em que o presidente Donald Trump apoiou o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman, apesar da CIA ter avaliado que ele ordenou a morte do jornalista Jamal Khashoggi.
A proibição da Dinamarca inclui bens que podem ser usados tanto para fins militares como civis, mas ainda é menos ampla do que as medidas alemãs, que também incluíram vendas que já haviam sido aprovadas.
Enquanto os países nórdicos são minúsculos exportadores de equipamentos para armas em comparação com Estados Unidos, Grã-Bretanha ou França, a decisão deles provavelmente exacerbará as preocupações dentro da indústria europeia de armas de um crescente consenso anti-saudita na União Europeia e além.
Embora Trump tenha sugerido que colocará os investimentos sauditas e a receita de exportação de armas acima das preocupações com os direitos humanos, os legisladores de todo o espectro político e dos dois lados do Atlântico têm ficado cada vez mais alarmados.
Além do assassinato do jornalista Khashoggi no consulado saudita em Istambul em outubro, uma coalizão liderada pela Arábia Saudita foi acusada de inúmeras violações dos direitos humanos no Iêmen desde 2015. Na quarta-feira, a organização humanitária internacional Save the Children disse que 85 mil crianças morreram de fome desde o início da intervenção.
Falando na televisão dinamarquesa na quinta-feira, o ministro das Relações Exteriores da Dinamarca, Anders Samuelsen, confirmou que o “contínuo agravamento da já terrível situação no Iêmen e o assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi” levaram à proibição das exportações. Ele instou outros membros da EU a também reavaliarem suas posições.
Na quinta-feira, a Finlândia também suspendeu as exportações de equipamentos para armas para os Emirados Árabes Unidos, que faz parte da coalizão liderada pela Arábia Saudita que intervém no Iêmen. Em seu anúncio, o governo finlandês citou explicitamente a “situação humanitária alarmante no Iêmen”.
Enquanto a Dinamarca, a Finlândia e a Alemanha estão sendo celebradas por defensores dos direitos humanos por cumprir com suas ameaças de suspender as vendas para o reino, os maiores exportadores de armas apontaram que os dois países têm muito menos a perder domesticamente do que outros. Estados Unidos, Reino Unido e França são os principais exportadores de armas para a Arábia Saudita, tendo vendido no ano passado US$ 3,4 bilhões, US$ 436 milhões e US$ 27 milhões, respectivamente.
Voltar atrás é fácil
Além disso, a Alemanha já mostrou no passado que está disposta a quebrar suas próprias promessas sempre que a pressão dos grupos de direitos humanos diminui. Depois que o atual governo prometeu suspender todas as vendas de armas no início deste ano, aprovou novas vendas meses depois – que foram interrompidas novamente após o assassinato de Khashoggi.
O governo de centro-direita da Dinamarca também enfrentou críticas no ano passado, depois que foi noticiado que o governo aprovou a venda de tecnologia de vigilância para o Catar, Omã e Arábia Saudita. A tecnologia foi produzida por uma subsidiária dinamarquesa da empresa britânica de armas BAE Systems, mas sua venda foi aprovada por autoridades em Copenhague em 2016.
As licenças de exportação foram concedidas após autoridades sauditas afirmarem que a tecnologia deveria ser usada apenas contra atividades criminosas e terrorismo.
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Mas grupos de direitos humanos temiam que o software quase certamente também fosse usado por autoridades sauditas para espionar os críticos – uma preocupação que acabou por ser justificada na esteira do assassinato de Khashoggi, depois que surgiram relatos de que críticos da liderança saudita haviam sido monitorados online. Não está claro se a mesma tecnologia dinamarquesa estava sendo usada.
Fornecimento de peças
Para os gigantes produtores de armas, a crescente resistência à venda de armas à Arábia Saudita pode representar um desafio, mesmo que o Reino Unido, a França e os Estados Unidos se abstenham de impor proibições às exportações. Produtores britânicos e franceses importam um grande número de componentes necessários para montar jatos de combate ou tanques de outros países da União Europeia, incluindo a Dinamarca e a Alemanha, sendo que este último ainda abriga uma das maiores indústrias de fabricação de armas do mundo.
Se os legisladores na Alemanha, Finlândia ou Dinamarca adotassem uma definição ainda mais abrangente de proibição de vendas para a Arábia Saudita, essa decisão também pode atrapalhar as cadeias de fornecimento no Reino Unido e na França – as empresas de lá estão temerosas.
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