Desde 1926, a ilha de Lindholm já abrigou estábulos, um laboratório para o estudo de doenças animais contagiosas e um crematório para porcos e vacas| Foto: Reprodução/Google Maps

A remota ilha dinamarquesa de Lindholm tem servido para muitas coisas. 

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Desde 1926 já abrigou estábulos, um laboratório para o estudo de doenças animais contagiosas e um crematório para porcos e vacas. A ilha desabitada de 7 hectares ainda possui uma balsa chamada Vírus, de acordo com o New York Times. 

Na sexta-feira, o governo de coalizão de direita da Dinamarca anunciou que Lindholm teria uma nova serventia: abrigaria cerca de 100 imigrantes. Os moradores seriam os requerentes de asilo que foram rejeitados pelo governo, mas que não podem ser deportados, bem como os migrantes com antecedentes criminais. 

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Segundo a proposta, Lindholm iria ser descontaminada em 2019 e configurada para abrigar cerca de 100 pessoas até 2021. Oministro das Finanças dinamarquês, Kristian Jensen, negou que a ilha era uma prisão, mas reconheceu que aqueles que forem enviados para lá terão que dormir lá. E Martin Henriksen, membro do partido anti-imigração Povo Dinamarquês disse que o partido planeja "minimizar o número de partidas de balsa o tanto quanto possível", segundo o New York Times. 

O movimento provocou indignação de grupos de direitos humanos que dizem que é desumano e pode violar a lei internacional. (As Convenções de Genebra proíbem o confinamento ilegal). 

"É importante notar que essas pessoas, apesar de terem cometido crimes, já cumpriram a sentença", disse Louise Holck, vice-diretora do Instituto Dinamarquês de Direitos Humanos, à CNN. "Não há motivos para a detenção, e do ponto de vista dos direitos humanos, não estamos falando apenas de janelas com grades... Teremos que avaliar que eles não estão detidos de fato". 

Na quarta-feira, a alta comissária da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, expressou preocupação sobre o plano, dizendo que vai discutir com o governo. 

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"Vimos o impacto negativo de tais políticas de isolamento e eles não devem replicar essas políticas. Porque privá-las de sua liberdade, isolá-las e estigmatizá-las só aumentará sua vulnerabilidade", disse ela, segundo a Reuters. . 

Mas para os defensores do plano, a natureza dura da política é parte do objetivo. "Eles são indesejáveis na Dinamarca, e eles devem sentir isso!", escreveu a ministra da Imigração da Dinamarca, Inger Støjberg, em um post no Facebook. 

Políticas duras

Henriksen disse à Associated Press na terça-feira que o plano pretende "sinalizar ao mundo que a Dinamarca não é atraente" para os migrantes. 

A Dinamarca, assim como grande parte da Europa, endureceu suas políticas de imigração desde que um grande fluxo de imigrantes do Oriente Médio e da África começaram a fugir de guerras e perseguição, inundando o continente de refugiados entre 2015 e 2016. Naqueles anos, 14.792 e 21.316 pessoas, respectivamente, pediram asilo na Dinamarca. Mas esse número caiu para 3.458 em 2017, segundo o jornal Dinamarca Local. 

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Esse declínio coincide com uma queda na migração em toda a Europa. Mas também poderia ter algo a ver com as políticas cada vez mais draconianas da Dinamarca. Desde 2015, o governo dinamarquês aprovou várias leis destinadas a tornar difícil a vida dos estrangeiros, levando o Atlântico a rotulá-lo de "o país menos atraente para refugiados da Europa Ocidental". 

Em 2016, o parlamento aprovou uma lei que permitia que as autoridades de imigração apreendessem ativos superiores a US$ 1.450 (R$ 5,6 mil) de solicitantes de asilo para ajudar a pagar por sua presença no país. A Dinamarca também cortou benefícios sociais para refugiados e imigrantes, e algumas cidades tornaram obrigatório que as instituições públicas sirvam carne de porco, que alguns muçulmanos praticantes não comem. Em agosto, o país promulgou uma proibição da burca, os críticos da legislação consideraram discriminatória a crescente população muçulmana do país.  

"Dói que eles não nos vejam como pessoas iguais", disse Barwaqo Jama Hussein, um refugiado somali, ao New York Times em julho. "Nós realmente vivemos na sociedade dinamarquesa. Nós seguimos as regras, nós vamos para a escola. A única coisa que não fazemos é comer carne de porco."