O embaixador da China na França alertou na quarta-feira (03) sobre a intenção de Pequim de buscar uma “reeducação” populacional de Taiwan após sua “reunificação” com o país, utilizando as mesmas expressões da perseguição do regime aos uigures ao ameaçar reprimir a oposição taiwanesa.
O diplomata Lu Shaye é geralmente visto como um linha-dura — mas que reflete exatamente a mensagem de Pequim para o resto do mundo. Ele fez os comentários ameaçadores durante uma entrevista à rede francesa BFMTV, enquanto discutia a viagem da presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, a Taiwan nesta semana.
Os comentários dele podem servir para aumentar o alarme global sobre as intenções da China de absorver Taiwan, já que tal política de reeducação provavelmente só seria possível se a China invadisse a ilha.
“Dez anos atrás, 20 anos atrás, a maioria da população de Taiwan era a favor da reunificação, mas por que agora eles são contra? É porque o Partido Democrático Progressista espalhou muita propaganda antichinesa”, disse ele sobre o partido político governante de Taiwan.
Pressionado pelo apresentador do programa, Lu esclareceu: “Após a reunificação, faremos a reeducação”. Embora os funcionários do Partido Comunista Chinês falem em reunificar Taiwan, o partido nunca controlou a ilha, que segue reivindicando independência. A afirmação de Lu de que a maioria dos taiwaneses era a favor da reunificação dez anos atrás também é falsa.
A reunificação citada por Lu só aconteceria após uma invasão brutal da ilha. Na mesma entrevista, ele disse que a possibilidade de um ataque chinês a Taiwan “sempre existe”, mas afirmou que “não seria contra a população”.
Em sua aparição na BFMTV, Lu disse acreditar que a população taiwanesa está se tornando mais favorável à aceitação do governo de Pequim e que está ainda mais “patriótica”, referindo-se, provavelmente, ao regime chinês.
E, apesar de afirmar na entrevista que a China pode invadir a ilha, Lu disse que qualquer esforço de reeducação seria pacífico e “não ameaçador”, esclarecendo que não seria uma reeducação “em massa”.
No entanto, a campanha de “reeducação” do partido na região de Xinjiang, no extremo oeste da China, coloca os uigures e outras minorias étnicas em campos de prisioneiros. Os detidos são submetidos a uma lavagem cerebral nacionalista, entre outras atrocidades, nos campos de concentração e em toda a região.
Em janeiro de 2021, o Departamento de Estado americano determinou que a "campanha de reeducação" chinesa faz parte de um genocídio que visa assimilar os uigures e até apagar sua existência como povo.
Funcionários do Partido Comunista Chinês (PCC) alegam que a "campanha de reeducação" em Xinjiang é necessária devido a um suposto movimento de independência extremista dos uigures. Essa ideia estava presente também nos comentários do embaixador.
“O problema é que o Partido Democrático Progressista espalhou propaganda extremista”, disse. Lu acusou o partido do governo taiwanês de se engajar em uma campanha de independência. “Se não reagirmos, se não respondermos, eles atingirão seu objetivo de independência.”
Embora o partido democrático seja geralmente visto como mais agressivo em relação à China do que o outro principal partido de Taiwan, o Kuomintang, ele não é favor de uma declaração formal de independência.
E, por mais que a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, tenha dito que o mundo deve reconhecer que Taiwan existe independentemente de Pequim, ela não se esforça tanto para declarar formalmente a independência da ilha.
Lu é conhecido como um polêmico funcionário chinês por sua história de provocar incidentes diplomáticos de alto nível durante seu período como embaixador na França.
Nos primeiros meses da pandemia de coronavírus, no início de 2020, a conta do Twitter da embaixada chinesa alegou que um diplomata chinês testemunhou que instalações francesas de atendimento a idosos deixaram seus residentes “para morrer de fome e doenças”. Também alegou, falsamente, que os legisladores franceses haviam se referido ao diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, usando um insulto racial.
Após esses incidentes, Jean-Yves Le Drian, então ministro das Relações Exteriores da França, convocou Lu para uma reunião, comentando sobre a indignação do país em relação às falsas declarações dele.
No ano seguinte, o Ministério das Relações Exteriores da França convocou Lu novamente, por dois dias seguidos, para falar sobre o assédio da embaixada ao acadêmico francês Antoine Bondaz -pesquisador especialista em China e Taiwan - e sobre ameaças relacionadas a sanções ocidentais contra a China pelas atrocidades feitas aos uigures.
Jimmy Quinn é correspondente de segurança nacional da National Review.
©2022 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.