Sem que um partido tenha obtido maioria no Congresso dos Deputados da Espanha nas eleições gerais de domingo (23), uma corrida teve início já nas primeiras horas após o pleito: para governar o Executivo espanhol, direita e esquerda estão atrás de partidos regionalistas, nacionalistas e até separatistas.
A ideia é conquistar o apoio dessas legendas ou ao menos que se abstenham na votação no Parlamento para formar o governo, que deve ocorrer no início de setembro. A primeira votação exige maioria absoluta, que nem direita nem esquerda possuem no momento, mas a segunda requer apenas maioria simples (mais votos a favor do que contra).
O conservador Partido Popular (PP), liderado por Alberto Núñez Feijóo, foi o mais votado no domingo, ao obter 136 cadeiras. Já tem praticamente garantido o apoio da legenda de direita Vox, que conquistou 33 assentos. A soma de cadeiras, 169, é insuficiente para garantir maioria absoluta (176 assentos) no Congresso dos Deputados.
Na esquerda, o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), do atual presidente do governo da Espanha, Pedro Sánchez, obteve 122 assentos e já conta com outros 31 da coalizão Sumar. Com 153 cadeiras somadas, está mais longe de permanecer no Palácio da Moncloa.
Numa eleição apertada como essa, para que os espanhóis não tenham que voltar às urnas, as cadeiras obtidas por partidos regionalistas, nacionalistas e separatistas podem fazer a diferença.
Nesta segunda-feira (24), em discurso perante a direção nacional do PP, Feijóo anunciou que já entrou em contato, além do Vox, com os nacionalistas bascos do PNV (cinco cadeiras conquistadas) e os navarros do UPN (um assento) e que fará o mesmo com os regionalistas das Ilhas Canárias (um), segundo informações da agência EFE.
De acordo com declarações publicadas pelo jornal El Periódico, o líder do PP disse que precisa tentar essas opções para que Sánchez não forme uma “coligação de perdedores” que resulte em “mais poder e mais capacidade de decisão do que nunca” para partidos nacionalistas e separatistas, até mesmo autorizando a realização de referendos de independência.
“Os espanhóis não podem ficar presos em blocos ou bloqueios [à formação do governo] ou permitir que nosso país seja fragmentado”, declarou.
No domingo à noite, a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC, sete cadeiras conquistadas no domingo) e o EH Bildu, do País Basco (seis assentos), já sinalizaram que devem voltar a apoiar Sánchez.
“Não especulamos, cumprimos com a nossa palavra. Se depender do EH Bildu, a balança vai inclinar-se para a esquerda”, disse o líder do partido, Arnaldo Otegi, numa coletiva de imprensa.
Esses apoios, entretanto, seriam insuficientes para que Sánchez permanecesse à frente do governo da Espanha, o que exigiria a adesão ou abstenção do partido catalão Junts, que não apoiou o presidente nos últimos anos.
A legenda, que conquistou sete cadeiras na eleição de domingo, tem como seu nome mais conhecido Carles Puigdemont, ex-chefe do governo da Catalunha, que convocou um referendo irregular de separação da Espanha em 2017 e foi processado e preso (libertado posteriormente) por isso.
Puigdemont disse durante a campanha que o partido não apoiaria Sánchez e nesta segunda-feira reafirmou essa posição. Porém, o secretário-geral do partido, Jordi Turull, disse que pretende tirar proveito da situação e sugeriu que o Junts condiciona seu apoio a concessões ou até mesmo à realização de um novo referendo de independência da Catalunha.
“O Estado [espanhol] sabe que, se quiser negociar conosco, há duas questões que são fundamentais e geram consenso na Catalunha, que são a anistia [dos envolvidos no referendo de 2017, alguns já perdoados por Sánchez] e a autodeterminação”, disse Turull, em entrevista à rádio RAC 1.
Nesta segunda-feira, a Justiça espanhola solicitou a emissão de uma ordem de prisão internacional contra Puigdemont, que está em autoexílio na Bélgica. A chave do futuro político espanhol, quem diria, pode estar nas mãos de um separatista e futuro presidiário.
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