O diretor para as Américas da Human Rights Watch, José Miguel Vivanco, disse nesta sexta-feira (19) em São Paulo que sua expulsão da Venezuela demonstra a "intolerância" do governo do presidente Hugo Chávez.
"A ordem de Chávez que nos força a sair do país nestas circunstâncias demonstra o conteúdo do nosso relatório, que fala da intolerância do governo frente à crítica", disse a jornalistas.
O governo venezuelano expulsou nesta quinta-feira à noite Vivanco e seu assistente, Daniel Wilkinson, e os embarcou em um avião com destino a São Paulo, acusando-os de violar a Constituição e de se imiscuir em assuntos do país, depois da divulgação de um relatório que acusava o governo Chávez de intolerância. Eles devem seguir na noite desta sexta-feira para Washington, para a sede da entidade. Vivanco disse que a expulsão é uma tática comum do governo venezuelano, "que em situações delicadas distrai a opinião pública desqualificando o mensageiro como um golpista, como parte de uma conspiração, ou um boneco de algum outro governo."
O ativista qualificou de "muito grave" a expulsão, porque "desgraçadamente marca um precedente muito negativo e envia uma mensagem que pode intimidar a aqueles que se dedicam a promover e defender os direitos humanos na Venezuela".
"Chávez pode ter expulsado o mensageiro, mas simplesmente reforçou a mensagem: as liberdades civis na Venezuela estão em perigo", disse Kenneth Roth, diretor-executivo da organização, em um comunicado.
Expulsão
A Venezuela expulsou na noite desta quinta (18) o diretor latino-americano do Human Rights Watch pouco depois da divulgação do informe.
As expulsões foram confirmadas pela Agência Bolivariana de notícias. Mais tarde, a TV estatal mostrou as imagens do funcionário deixando o país.
A nota oficial diz que o governo decidiu pela expulsão dos dois dirigentes do HRW depois que declarações de Vivanco "violentaram a Constituição e as leis da Venezuela, e agrediram as instituições da democracia venezuelana". Segundo o comunicado, o HRW "interferiu ilegalmente nos assuntos internos do país".
Através de comunicado, o governo notificou os dois representantes do HRW sobre "a obrigação de abandonar de maneira imediata a pátria do libertador Simon Bolívar".
Nesta quinta, a ONG apresentou em Caracas um informe de cerca de 300 páginas em que inclui críticas ao presidente Chávez. O HRW informou sobre um "desrespeito do presidente por direitos fundamentais" no país. O documento leva o título de "Uma década de Chávez: intolerância política e oportunidades perdidas para o progresso dos direitos humanos na Venezuela".
"Nos preocupa muito a situação na Venezuela. Nos preocupa que o debate político se dê em um contexto onde há instituições políticas tão débeis", informou o HRW.
Vivanco leu um resumo do informe, no qual advertia para "o manifesto desprezo do princípio de separação de poderes, e em especial da idéia de um Poder Judiciário independente por parte das autoridades".
"Em seus esforços para conter a oposição política e consolidar seu poder, o governo do presidente Hugo Chávez tem debilitado as instituições democráticas e as garantias dos direitos humanos na Venezuela", denuncia a HRW.
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