A Justiça da Rússia ordenou nesta sexta-feira (18) a detenção do dirigente da ONG Golos, principal observador eleitoral independente do país, na tentativa de impedi-lo de acompanhar as eleições presidenciais de 2024, nas quais o atual presidente, Vladimir Putin, provavelmente concorrerá à reeleição.
"Eles querem destruir o Golos. É evidente que não estão se preparando para as eleições municipais de setembro, mas para as eleições presidenciais" de março de 2024, disse Oleg Orlov, um conhecido ativista russo, a vários meios de comunicação, entre eles a Agência EFE.
O russo Grigori Melkoniants, copresidente do Golos - que significa "voz e voto" em russo -, ficará detido até 17 de outubro por ordem do Tribunal de Basmanni, depois de ter sido preso em Moscou. Seus advogados tentaram converter a prisão para domiciliar, no entanto, a Justiça negou o pedido.
Melkoniants, cuja ONG denunciou inúmeras irregularidades nas eleições realizadas na Rússia na última década, é acusado de coordenar o trabalho de uma organização "indesejável" em território russo, que foi uma das primeiras a serem incluídas na lista de "agentes estrangeiros" do Ministério da Justiça.
Fundado em 2013, o Golos é membro da Rede Europeia de Organizações de Monitoramento Eleitoral (ENEMO), que também não é bem vista por Moscou.
"Na Rússia não deve haver nenhuma observação das eleições presidenciais, que, claro, não são eleições autênticas. A acusação contra Melkoniants é política, são fabricadas e inventadas", denunciou Orlov.
O defensor dos direitos humanos, que também está sendo julgado por desacreditar o Exército russo e criticar publicamente a guerra na Ucrânia, acredita que o objetivo do Kremlin é que "não haja voz crítica dentro da Rússia".
“É difícil para o Golos continuar seu trabalho, mas ele continuará fazendo, como todos os ativistas fazem”, prometeu Orlov, antes de gritar: "Liberdade para os presos políticos!".
Além de abrir um processo criminal, as autoridades russas realizaram buscas na casa de Melkoniants e de vários coordenadores do movimento em oito regiões do país, incluindo Moscou e São Petersburgo.
Há um ano, o Golos denunciou centenas de violações nas eleições municipais, dominadas pelo partido do Kremlin, o Rússia Unida.
A Comissão Eleitoral Central (CEC) da Rússia anunciou que nas próximas eleições presidenciais dezenas de milhões de russos poderão votar eletronicamente, o que a oposição extraparlamentar qualificou como “um instrumento fraudulento”.
Embora Putin não tenha dito abertamente que pretende concorrer, a presidente da CEC, Ella Pamfilova, sugeriu no início de agosto que ele concorreria à reeleição.
Após a polêmica reforma da Constituição em 2020, Putin poderá permanecer no Kremlin por mais dois mandatos presidenciais de seis anos cada, até 2036. (Com Agência EFE)