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Novo mandato

Discurso progressista de Obama esbarra na crise

As declarações de Obama em defesa dos negros e imigrantes repercutiram  pelo mundo e elevaram as expectativas neste mandato. Mas obstáculos econômicos e políticos são enormes | Jewel Samad/AFP
As declarações de Obama em defesa dos negros e imigrantes repercutiram pelo mundo e elevaram as expectativas neste mandato. Mas obstáculos econômicos e políticos são enormes (Foto: Jewel Samad/AFP)
Cônsul Dennis Hankins: EUA está mais conectado |

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Cônsul Dennis Hankins: EUA está mais conectado

Com o respaldo da reeleição e sem o peso de ter que se preocupar em conseguir um próximo mandato, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pôde explicitar algumas de suas posições em seu discurso de posse na última segunda-feira. A defesa de igualdade para negros e imigrantes repercutiu pelo mundo todo e despertou em alguns a expectativa de que o novo mandato de Obama tenha uma marca mais forte de mudança. Por outro lado, a dura realidade econômica e política pode deixar o tom progressista do presidente mais para retórica.

Durante o primeiro man­dato, Obama não conseguiu dominar o índice de desemprego que hoje está por volta dos 8%. A promessa era deixá-lo abaixo dos 5%. E a nova gestão começou com a negociação do teto da dívida, que já atingiu o limite de US$ 16,4 trilhões. Por enquanto, o assunto está em aberto, já que a Câmara dos Representantes (deputados) suspendeu o limite da dívida até abril, quando a decisão deve ser tomada. Isso vai requerer do presidente bastante tato para chegar a um consenso entre republicanos e democratas no Congresso.

Na visita que fez a Curitiba na semana passada, o cônsul-geral dos Estados Unidos no Brasil, Dennis Hankins, reconheceu, em entrevista à Gazeta do Povo, que sempre é vantajoso para um presidente reeleito não ter que se preocupar com um próximo mandato, mas que o presidente norte-americano precisa pensar na situação do seu partido no Congresso. Ele disse que a maioria da população espera que os dois partidos trabalhem mais juntos para resolver as prioridades da nação. "Senão, vamos ter mais dois anos de frustração. A crise só pode ser resolvida com negociação."

O coro "Yes, we can" (Sim, nós podemos) da primeira eleição já não é mais repetido pelos que apoiam Obama. O professor de história dos Estados Unidos da Universidade de São Paulo (USP) Sean Purdy avalia que muitos deram mais um voto de confiança ao presidente mais por pragmatismo do que por esperança. Ele não vê muita probabilidade de que Obama mude a postura que teve no primeiro mandato, já que a economia não cresceu como esperado e ainda é preciso colocar a casa em ordem.

Purdy acredita que muitos só votaram em Obama por medo de que os republicanos voltassem ao poder. Ele considera, ainda, que este mesmo receio faz com que os movimentos sociais se desmobilizem e, em vez de pressionar o presidente, deixem de se manifestar para não fortalecer indiretamente a oposição.

"Toma lá, dá cá"

Por mais que o presidente se sinta confortável para declarar apoio aos "irmãos gays" e aos imigrantes, as decisões podem ser mais complexas. Carlos Magno Vanconcellos, professor de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba (Unicuritiba), ressalta que, para chegar a acordos em questões econômicas, Obama terá de abrir mão de mudanças mais radicais com relação à imigração. "A posição dos republicanos é muito clara: eles gostariam de tornar mais difícil a entrada, permanência e legalização de imigrantes".

Para melhorar imagem, EUA têm de dar atenção à política externa

As preocupações com os problemas internos no primeiro mandato fizeram com que a política externa do governo Obama ficasse, muitas vezes, em segundo plano. No entanto, as relações exteriores vão ser determinantes para a marca que o presidente democrata vai deixar ao final de seu segundo governo. Na edição da última semana, a revista The Economist frisou três pontos em que o presidente Obama não deve hesitar em enfrentar: a situação fiscal do país, a China e o Oriente Médio.

O professor de história dos Estados Unidos da USP Sean Purdy considera que não houve mudanças na política externa para o Oriente Médio com o governo Obama. "O Afeganistão ainda é uma bagunça. De vez em quando ele faz alguma coisa pela Palestina, mas não acaba fazendo nada."

Carlos Magno Vancon­­­cellos, professor de Rela­­ções Internacionais do Unicuritiba, avalia que Obama não teve muito sucesso ao agir em conflitos internacionais, como a Primavera Árabe e ressalta que um dos desafios do presidente é se posicionar definitivamente com relação à Síria.

Aprimorar as relações com a China é inevitável para os Estados Unidos, já que há previsões de que, em 2017, a economia chinesa ultrapasse a norte-americana. Purdy observa, contudo, que no momento os EUA não têm muitas condições de negociar. "Até agora eles não têm muito poder de barganha, os EUA devem muito para os bancos chineses", diz.

América Latina

Purdy considera, ainda, que Obama "basicamente esqueceu a América Latina". Para Vanconcellos a "postura de menor engajamento externo" dos EUA se refletiu na pouca interferência em casos como a deposição do presidente paraguaio Fernando Lugo e o adiamento da posse do presidente da Venezuela Hugo Chávez.

O cônsul dos EUA no Brasil, Dennis Hankins, diz que, apesar de os problemas internos terem sido prioridade, "o presidente Obama foi visto mais conectado com o resto do mundo, atento em fazer coligações com outros países. E isso vai continuar".

O fato é que, no novo mandato, o presidente norte-americano precisa administrar a política externa para que, conforme foi observado na revista The Economist, no futuro não se faça referência aos "Anos-Bush-Obama" como um período em que dois presidentes fizeram um desastre.

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