O Sínodo dos Bispos sobre a família -- encontro realizado no Vaticano desde o último dia 4 e que segue até 25 de outubro -- entra em sua semana conclusiva e indica que poderá haver mudança em relação à preparação para o matrimônio católico. Os padres sinodais, tanto nas colocações em plenário quanto nos grupos linguísticos, têm insistido no tema, um dos mais citados até agora.
“Temos que criar programas de pastoral familiar. Não só para remediar, mas para prevenir”, disse o cardeal mexicano Alberto Suárez na coletiva de imprensa realizada nesta terça-feira (20), no Vaticano.
Nos primeiros debates da assembleia, alguns bispos chegaram a sugerir que houvesse uma preparação prévia de seis meses antes do casamento ou que se criasse uma catequese semelhante à que é aplicada antes da primeira comunhão e do crisma.
Apesar de não terem chegado a um consenso sobre o método formativo a ser adotado, quem quiser se casar na Igreja vai ter que se adequar ao período de discernimento e formação que poderá ser exigido pela Igreja Católica.
“As pessoas se casam para serem felizes, para se amarem. Precisamos evitar as separações, por isso a preparação é importante”, ressaltou o cardeal espanhol Luís Maria Martinez Sistach aos jornalistas credenciados no Vaticano.
“A questão não é estipularmos se existirão esses seis meses de preparação antes do matrimônio, mas dar a oportunidade para que os jovens possam discernir sua vocação”, disse o cardeal sul-africano Wilfrid Napier, que também participou da coletiva desta terça.
Napier, que também é um dos delegados do Sínodo, reiterou que a assembleia sinodal, cujo tema é “A vocação e a missão da família na Igreja e mundo contemporâneo”, não foi convocada apenas para tratar de questões negativas. “Reconhecemos em primeiro lugar os milhares de bons matrimônios e famílias no mundo. Isso nos ajuda a entender o que necessitamos como Sínodo”, disse.
Nulidade matrimonial
Entra em vigor no dia 8 de dezembro deste ano a reforma realizada pelo papa Francisco que prevê menos burocracia, mais rapidez e a gratuidade na realização dos processos de declaração da nulidade matrimonial. Além disso, ficará a cargo do bispo local ou de alguém delegado por ele dar o veredicto em relação aos processos considerados menos complicados.
A decisão do papa foi fruto de um pedido feito pelos padres sinodais durante o Sínodo extraordinário dos bispos sobre a família de 2014.
Mas algo tem preocupado alguns fieis e até padres sinodais: as dioceses possuem pessoas preparadas para acompanhar os processos? O cardeal Sistach, que também é canonista, respondeu a essa indagação dos jornalistas que participaram da coletiva.
“O problema da aplicação da reforma é que nem sempre existe gente preparada para lidar com os processos. Mas nós, pastores, devemos ver o melhor a ser feito [...] Quem sabe não poderíamos fundar uma associação de pessoas especializadas que pudessem ajudar as dioceses?”, disse.
Debates
Nesta terça-feira os padres sinodais concluíram os debates nos 13 círculos menores (grupos linguísticos) sobre a terceira e última parte do Instrumentum Laboris -- o documento de trabalho do Sínodo.
Na quarta serão entregues aos jornalistas credenciados no Vaticano os resumos das colocações feitas nesses grupos, os quais oferecerão um panorama das sugestões definitivas dos bispos. Elas serão entregues ao papa Francisco no próximo sábado (24), no relatório final.