Chávez teve uma dolorosa derrota em um referendo constitucional em 2007, barrando a possibilidade dele se reeleger| Foto: Jorge Silva / Reuters

A oposição e o "império" deixaram de ser os únicos inimigos do presidente Hugo Chávez na Venezuela. Novos personagens saídos das fileiras do próprio líder venezuelano ameaçam tirar dele alguns cargos-chave nas eleições regionais deste domingo (23).

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Após a dolorosa derrota em um referendo constitucional um ano atrás, o que lhe fechou as portas para tentar reeleger-se quantas vezes quisesse, Chávez tem sido obrigado a combater várias vozes dissidentes de peso que questionam sua liderança e racharam pela primeira vez a unidade governista antes de um pleito.

Não obstante os chamados dissidentes afirmarem ainda estar comprometidos com o projeto socialista do presidente, Chávez já os descreve como "contra-revolucionários", prometendo varrer os "traidores" do mapa político venezuelano.

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"Vamos mostrar que os traidores de Chávez morrem politicamente, aquele que trai o povo está liquidado. Companheiros, o bando de traidores não tem para onde correr", afirmou o presidente durante um comício realizado em seu Estado natal, Barinas, local onde a dissidência poderá conquistar alguns cargos.

Apesar de nas eleições regionais de 2004 os aliados de Chávez terem conquistado 20 dos 22 governos estaduais e a maior parte das 300 prefeituras da Venezuela, o dirigente perdeu nos últimos anos o apoio de quatro governadores que abandonaram "o processo" em meio a lutas internas pelo poder.

Os "socialistas" devem provavelmente confirmar sua permanência na maioria dos cargos, mas os pesquisadores prevêem que, entre a oposição e a dissidência, os governistas sairiam derrotados em até um terço dos Estados e municípios.

Alguns desses locais encontram-se no chamado "corredor eleitoral", que concentra mais de 70 por cento dos eleitores desse país de 28 milhões de habitantes.

De compadre a inimigo

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Um exemplo dessa situação é Carabobo, um dos Estados de maior densidade populacional e mais industrializados da Venezuela. Ali, o "chavismo" enfrenta não apenas o candidato da oposição, mas também o atual governador, Luis Acosta Carlez, que em poucas semanas deixou de ser um "compadre" para transformar-se em feroz "inimigo" de Chávez.

Em Carabobo, o candidato oposicionista lidera as pesquisas já que o voto governista encontra-se dividido entre Acosta Carlez e Mario Silva, um polêmico ex-apresentador do canal estatal de TV escolhido pelo partido do presidente para disputar essa eleição.

"Acosta Carlez regressou a seu estado natural: a traição. Ele nunca foi um revolucionário e sempre teve inclinações pela oligarquia de Carabobo", afirmou Silva em uma entrevista concedida à Reuters.

Acosta Carlez não havia criticado até agora o governo de Chávez, a quem deixou de chamar "pai" para chamar de "louco" depois de o presidente ter ameaçado colocar tanques na rua caso a "oligarquia" ganhe o pleito naquele Estado, situado no norte do país e detentor de um importante porto comercial.

"A revolução realizada pelo presidente é uma coisa amalucada, porque nem ele mesmo sabe para onde está levando o país, é um esforço de tentativa e erro, ou de erro e tentativa", afirmou o general da reserva à Reuters em sua residência oficial, onde ainda mantém uma parede cheia de fotos tiradas ao lado de Chávez nas eleições de 2004.

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Em Valencia, capital de Carabobo, Acosta Carlez apagou as referências a Chávez nos locais de obras realizadas pelo governo dele. Onde antes aparecia a imagem do "líder máximo da revolução", agora se vê apenas uma silhueta vazia. E o lema do presidente, "pátria, socialismo ou morte", também foi tirado desses locais.

Outro cenário na mira dos chavistas é Barinas, que, apesar de não contar com um colégio eleitoral relevante nem grandes indústrias ou recursos naturais importantes, poderia cair na mão de adversários de Chávez, o que representaria um golpe de caráter simbólico para o líder venezuelano.

Esse não é apenas seu Estado natal, como também é o Estado governado pelo pai dele durante quase uma década. Além disso, o candidato chavista do momento é ninguém menos que Adán Chávez, irmão do presidente e um dos arquitetos do projeto político do dirigente.

Também no Estado agrícola de Guárico, na região central do país, o partido Pátria Para Todos (PPT) decidiu distanciar-se das diretivas do "chavismo" ao apresentar candidato próprio, o qual tem chances de vencer um ex-ministro da Informação que conta com o respaldo de Chávez.

Em meio à batalha eleitoral, até mesmo a segunda ex-mulher do presidente, Marisabel Rodríguez, decidiu lançar sua candidatura para a prefeitura de um município pelo partido Podemos, que rompeu sua aliança com o chavismo em 2007.

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No entanto, os governistas minimizam a importância da dissidência e crêem que o racha nas forças políticas pró-Chávez será passageiro.

"Nenhum desses partidos pode sobreviver politicamente fora da aliança. Para mim, a dissidência é circunstancial. Depois da eleição, vamos ver como as coisas ficam", afirmou à Reuters o general da reserva Alberto Muller Rojas, vice-presidente do PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela, de Chávez).