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Democracia

Dissidente de Cuba conquista prêmio europeu

Guillermo Fariñas na porta de sua casa, em Santa Clara, Cuba: debilitado por greves de fome, dissidente tem dificuldade para caminhar | Desmond Boylan/Reuters
Guillermo Fariñas na porta de sua casa, em Santa Clara, Cuba: debilitado por greves de fome, dissidente tem dificuldade para caminhar (Foto: Desmond Boylan/Reuters)

Santa Clara - O dissidente cubano Guillermo Fariñas, que já iniciou 23 greves de fome contra o regime castrista, foi anunciado ontem pelo Parla­­mento Europeu como o vencedor do Prêmio Sakharov 2010 de li­­berdade de pensamento. Esse é o terceiro Prêmio Sa­­kha­­rov concedido à oposição cubana, após as vitórias de Oswaldo Payá em 2002 e das Damas de Branco, esposas de presos políticos, em 2005.

O reconhecimento acontece antes da reunião de segunda-feira dos ministros europeus das Re­­lações Exteriores que deve revisar a Posição Comum com Cuba, um documento que condiciona as relações da União Euro­­peia (UE) com Havana a avanços nos direitos humanos e mais de­­mocracia. Fariñas colocou fim a uma greve de fome que já durava 135 dias após a decisão do líder cubano Raúl Castro, em julho, de soltar gradualmente 53 opositores das prisão.

A libertação ocorreu após uma onda de críticas, especialmente da União Europeia e dos Estados Unidos, envolvendo a morte do preso opositor Orlando Zapata, no dia 23 de fevereiro, depois de 85 dias de greve de fome.

O psicólogo e escritor de 48 anos, parou de comer e ingerir líquidos em 24 de fevereiro e en­­cerrou a greve de fome em 8 de ju­­lho. Ele entrou em colapso em 11 de março e, após isso, passou a receber nutrientes e líquidos por meio intravenoso em um hospital de sua cidade natal, Santa Cla­­ra, 270 km a leste de Havana.

Mensagem

Muito magro e ainda mostrando dificuldade para andar, devido às sequelas da greve de fome, Fari­­ñas dedicou o Prêmio Sakharov aos "lutadores pela democracia" em Cuba.

"O mundo civilizado, o Par­­la­­mento Europeu está enviando mensagem aos governantes cuba­­­­nos de que já é hora da de­­mo­­cracia e da liberdade de consciência e expressão em Cuba", disse ontem o dissidente.

Sentado em frente ao andador de metal, de pijama e sem camisa, o dissidente passou o dia ao telefone, depois que uma chamada a partir de Es­­trasburgo anunciou a concessão do Prêmio Sakharov 2010.

"Não é um prêmio a Guillermo Fariñas, mas a todo o povo cubano que há 50 anos luta para sair da ditadura; nós, os opositores pacíficos dentro de Cuba, somos o rosto mais visível, assim como os presos políticos e o exílio", acres­­centou Fariñas.

Natural de Santa Clara, cidade que ficou ao lado de Ernesto Che Guevara numa batalha decisiva para a vitória de Fidel Castro, em 1.º de janeiro de 1959, Fariñas, fi­­lho de dois fervorosos seguidores da revolução, fez parte das Tropas Especiais.

Na década de 80 realizou missão militar em Angola, mas distanciou-se do Governo em 1989, quando se opôs ao fuzilamento do general Arnaldo Ochoa, acusado de narcotráfico.

Os outros dois cubanos que ga­­nharam o Sakharov são Os­­wal­­do Payá, em 2002, e das Da­­mas de Branco, esposas de presos políticos, em 2005. O governo não as au­­torizou a viajar para re­­ceber a homenagem, em dezembro.

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