Os dissidentes cubanos, que sonham com uma "contra-revolução" na ilha, vêem em Raúl Castro um homem mais flexível e capaz de abrir espaços políticos do que seu irmão Fidel, substituído no poder depois de 47 anos para se recuperar de uma cirurgia.
Divididos em grupos , intimidados pelo Estado e infiltrados por agentes do governo, o pequeno movimento dissidente não tem força para explorar a doença de Fidel Castro, e poucos acreditam numa súbita reviravolta política, como ocorreu no Leste Europeu em 1989, quando os regimes comunistas caíram um após o outro.
Mas alguns disseram na quinta-feira torcerem para que Raúl Castro, irmão de Fidel e presidente interino, esteja mais aberto a reformas e a uma mudança pacífica, apesar de seu passado como comunista radical.
- Não há uma primavera dissidente em Cuba, claramente - disse Manuel Cuesta Morúa, líder do pequeno grupo Arco Progressista, social-democrata. - Não há movimentos sociais apoiando as proposta dos dissidentes neste momento.
O conhecido dissidente Oswaldo Payá, ganhador do prêmio Andrei Sakharov de direitos humanos, da União Européia, em 2002, pediu calma aos cubanos. Mas poucos ouviram falar da sua proposta de diálogo nacional e de transição gradual para a democracia.
Seu nome não aparece na imprensa estatal. Seus principais seguidores estão presos desde 2003, sob acusação de colaborar com os Estados Unidos.
Agentes de segurança fotografam quem visita sua casa em Havana e interrogam vizinhos que o cumprimentam na rua. Recentemente, apareceram no seu muro slogans intimidadores, como "Dissidência é traição" e "Socialismo ou morte".
- A situação é muito complexa. As pessoas estão esperando para ver o que vai acontecer, porque nada está claro ainda - disse o economista dissidente Oscar Espinosa Chepe sobre a surpreendente "proclama à nação" de segunda-feira, por meio da qual Fidel transferiu o poder a Raúl, para ser submetido a uma cirurgia intestinal.
Sete em cada dez cubanos nasceram depois da revolução de 1959, que levou Fidel ao poder. Não conhecem, portanto, outro governante.
Espinosa Chepe disse que Raúl não tem rivais e que as Forças Armadas, instituição mais organizada do país, está firmemente no controle.
Os dissidentes dizem ainda que Raúl é mais flexível que seu irmão, que, nos últimos anos, recuou das tímidas reformas econômicas adotadas após o colapso soviético.
Mas Espinosa Chepe acha que os "fidelistas" mais radicais têm razão para se preocupar. Ele acha que Raúl copiaria a China e o Vietnã, que adotaram a economia de mercado, mas sem abrir mão do regime de partido único comunista.
Para Cuesta Morúa, o fato de Raúl já ter 75 anos permitira que, depois dele, houvesse a transição pacífica que a maioria dos cubanos deseja.
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