Na véspera da chegada do Papa Bento XVI a Cuba, nesta segunda-feira, dissidentes denunciaram que estão sendo impedidos de se dirigir a Santiago de Cuba, onde ele rezará uma missa. A denúncia ocorre no rastro de fortes expectativas em torno de possíveis pronunciamentos do Pontífice sobre direitos humanos na ilha, além de uma nova controvérsia deflagrada por rumores de que ele poderá se encontrar com o presidente venezuelano, Hugo Chávez, sem que o Vaticano tenha ainda se pronunciado sobre o pedido do grupo Damas de Branco para uma audiência.

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Até agora é certo apenas o encontro de Bento XVI com o presidente Raúl Castro, mas se especula que o Pontífice poderá encontra-se também com o ex-presidente Fidel Castro. O alerta sobre as medidas tomadas pelo governo para evitar a chegada de dissidentes a Santiago de Cuba foi feito pela blogueira Yoani Sánchez. Em seu perfil, ela disse que um jornalista, dois ativistas e várias integrantes do Damas de Branco foram presos para evitar que vissem o Papa na cidade do oeste da ilha. "Está acontecendo uma 'limpeza ideológica' para impedir que ativistas e dissidentes assistam às missas" do Papa em Cuba, escreveu Yoani. Ela advertiu também que o acesso à internet está sendo cancelado em vários lugares, devido à visita papal. "Já está escrito o roteiro oficial da visita do Papa a Cuba e o pior é que pretende deixar de fora as vozes críticas", disse ela.

Por sua vez, as Damas de Branco asseguraram nop domingo que não querem protestar nem lançar slogans pela liberdade durante a missa que Bento XVI vai rezar em Havana na quarta-feira. O grupo de mulheres e mães de dissidentes realizou ontem sua tradicional marcha dominical na capital cubana sem incidentes, embora na semana passada dezenas tenham sido presas pela polícia. A líder das Damas, Bertha Soler, disse que ainda não receberam resposta do Vaticano para um pedido de encontro com o Papa em sua estada em Cuba, feito em janeiro. Ao sair da missa de ontem, ela apoiou as críticas de Bento XVI - feitas a bordo do avião que o levou ao México na quinta-feira - de que o marxismo já não serve mais ao povo cubano e é preciso buscar novos modelos.

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"Realmente ele (o Papa) não está equivocado. Está em sintonia e sabe realmente a situação do povo cubano", disse ela. "O comunismo, o marxismo-leninismo, realmente o governo cubano se apoiou nisso para reprimir o seu povo... para manter-se no poder."

Ela confirmou que, apesar da repressão policial, as Damas de Branco vão tentar chegar à Praça da Revolução depois de amanhã para assistir à missa campal que será realizada por Bento XVI em Havana.

Chávez teria pedido encontro com Pontífice

Por outro lado, a possibilidade de um encontro do Papa com Chávez levantou outra polêmica. A informação, dada pelo jornalista opositor Nelson Bocaranda pelo Twitter, indica que o Vaticano teria aceitado o pedido, feito por Caracas quando o governo venezuelano se deu conta de que Bento XVI e Chávez estariam em Cuba na mesma época. O líder venezuelano chegou no sábado à noite à ilha para iniciar seu tratamento de radioterapia para um câncer que o acomete, e foi recebido pelo presidente Raúl Castro. Embora seja católico, Chávez tem uma conturbada relação com a Igreja Católica, e dois anos atrás se declarou marxista - alegando na época não ver qualquer contradição entre suas convicções políticas e sua religiosidade. Esta, no entanto, não o impede de fazer pesados ataques à Igreja, já tendo chamado o arcebispo de Caracas, Jorge Urosa, de troglodita, e ameaçado revisar um convênio diplomático com o Vaticano para suspender o que definiu como privilégios desfrutados pela instituição em seu país. Por sua vez, os bispos venezuelanos já denunciaram num comunicado que na Venezuela se implanta um "Estado socialista" ao estilo cubano. Embora o encontro não tenha sido confirmado pelo Vaticano - o porta-voz disse que ficaria surpreso se ele se realizasse -, a simples possibilidade levou internautas a reagirem, alegando que seria um erro o Papa encontrar-se com Chávez se não receber também as Damas de Branco.

No encerramento de sua visita de três dias ao México, no domingo, o Pontífice condenou o tráfico de drogas e a corrupção numa missa campal que reuniu pelo menos 600 mil pessoas num parque nos arredores de León, no estado de Guanajuato. Num episódio inédito, a missa reuniu todos os três candidatos à Presidência nas eleições de 1 de julho - Enrique Peña Nieto, do PRI; Josefina Vázquez Mota, do governista Partido Ação Nacional (PAN); e Andrés Manuel López Obrador, do PRD. O Pontífice exortou os mexicanos a deixarem de lado a violência, num país que já viu dezenas de milhares de assassinatos ligados ao tráfico de drogas nos últimos anos.

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