O regime de Muamar Kadafi convidou formalmente ontem o Brasil a integrar uma missão de observadores que acompanharia a crise entre opositores e o governo da Líbia. A proposta foi feita por autoridades do governo diretamente ao embaixador brasileiro em Trípoli, George Fernandes, durante um encontro para celebrar o "Dia do Povo" data de refundação da Líbia, há 34 anos.
"Ele propôs uma comissão para examinar a situação in loco e citou especificamente o Brasil, a União Africana e a Organização da Conferência Islâmica", contou à Agência O Globo, por telefone, o embaixador brasileiro George Fernandes.
O convite ao Brasil foi estendido à União Africana e ao bloco da Conferência Islâmica. Mas dificilmente a missão de observadores, conforme os planos de Kadafi, será levada adiante.
As relações entre o regime de Kadafi e o Brasil ganharam impulso com o governo Luiz Inácio Lula da Silva, que visitou o país logo no começo de seu governo, em 2003.
Pouco antes da ida de Lula, desembarcara no Brasil Saadi Kadafi, um dos oito filhos do ditador, que comandava a seleção de futebol da Líbia. "Lula esteve várias vezes com meu pai nos últimos anos e eles têm simpatia um pelo outro", disse à época o filho do ditador.
Nas Nações Unidas, o governo Lula esteve ao lado da Líbia em votações polêmicas. Em 2003, os dois países apoiaram uma resolução da extinta Comissão de Direitos Humanos que determinou a expulsão da ONG Repórteres Sem Fronteiras, que luta pela liberdade de imprensa no mundo.
O texto havia sido proposto pelo governo Kadafi depois que ativistas do grupo fizeram um protesto contra a presença da Líbia na presidência do órgão de direitos humanos. Em novembro de 2003, Lula visitou Síria, Líbia, Egito e Emirados Árabes Unidos.
Sob o governo Dilma Rousseff, o Brasil votou na ONU a favor de sanções ao regime de Kadafi, incluindo a exclusão da Líbia do Conselho de Direitos Humanos. Mas a embaixadora do Brasil na organização, Maria Luiza Ribeiro Viotti, afirmou que o emprego de novas medidas, inclusive militares, contra o governo da Líbia não está no horizonte da ONU neste momento.
Empresas brasileiras
Kadafi disse ainda que pretende substituir empresas e bancos ocidentais que atuam no país por outros de Brasil, Rússia e China
"Nossa presença na Líbia é muito forte com as empresas brasileiras. O Brasil é muito respeitado em todo o continente africano disse o embaixador.
Procurado em Brasília, o Itamaraty informou não ter detalhes sobre a proposta de Kadafi e aguardar um comunicado oficial da embaixada em Tripoli para se pronunciar.