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Daniel Ortega (ao centro) ao lado de outros ditadores, Miguel Diaz-Canel, de Cuba, e Nicolás Maduro, da Venezuela, e do presidente da Bolívia, Luis Arce, em encontro da Alba em Havana em dezembro
Daniel Ortega (ao centro) ao lado de outros ditadores, Miguel Diaz-Canel, de Cuba, e Nicolás Maduro, da Venezuela, e do presidente da Bolívia, Luis Arce, em encontro da Alba em Havana em dezembro| Foto: EFE/Ernesto Mastrascusa

O ditador da Nicarágua, Daniel Ortega, voltou a atacar a Igreja Católica e o Vaticano, chamando o falecido papa João Paulo II de “ditador e tirano”, em um discurso transmitido pela televisão nesta quinta-feira (20).

Ortega lembrou a primeira visita de João Paulo II à Nicarágua, em 4 de março de 1983, poucos anos após os sandinistas tomarem pela primeira vez o poder no país. Durante uma missa rezada em uma praça da capital, Manágua, o papa teve que pedir silêncio durante a Eucaristia para simpatizantes do governo que gritavam “queremos a paz”.

Segundo o ditador nicaraguense, o pontífice teria ficado irritado com o grito de “queremos a paz” e porque as mães de sandinistas que morreram na guerra civil daquela década pediram uma oração.

“Ele não a fez [a oração], se irritou e gritou: ‘Silêncio!’, como um bom ditador, como um bom tirano”, disse Ortega.

O ditador sandinista afirmou, sem apresentar provas, que João Paulo II foi à Nicarágua naquela ocasião “com uma mentalidade totalmente distante da essência de Cristo e do cristianismo, manipulado pelo governo [do então presidente dos Estados Unidos] de Ronald Reagan”.

Karol Wojtyla, nome de batismo de João Paulo II, esteve na Nicarágua pela primeira vez em março de 1983. Naquela ocasião, além de pedir silêncio para a multidão de sandinistas, censurou publicamente o falecido poeta e sacerdote trapista Ernesto Cardenal por misturar religião com revolução.

“Grande noite escura”

Segundo o artigo “A vergonhosa emboscada dos sandinistas contra o papa João Paulo II”, do jornalista Alberto García Marrder, que cobriu aquela visita à Nicarágua para a agência EFE, “foi repudiante, vergonhoso, cruel e grotesco o que Sua Santidade sofreu na praça”.

“Uma multidão de sandinistas profanou uma missa ao ar livre do papa João Paulo II no ponto alto da celebração”, relatou.

Marrder lembrou que o papa, surpreso com este desafio, respondeu com voz já rouca: “A Igreja também quer a paz”, mas em vão, porque os gritos continuaram.

“Sua Santidade enfureceu as multidões quando, afastando-se de seu discurso oficial e referindo-se claramente ao sandinismo, lembrou a passagem do Evangelho de Mateus 7,15-27: ‘Cuidado com os falsos profetas. Eles se vestem como ovelhas, mas por dentro são lobos ferozes’", disse Marrder.

A Nicarágua, em 1983, estava em meio a uma guerra civil entre os contras, financiados pelos Estados Unidos, e os sandinistas, aliados da ex-União Soviética e de Cuba.

Para Ortega, João Paulo II respondeu à multidão há 40 anos de uma forma “não cristã”.

“Após deixar a Nicarágua, aconteceu um escândalo mundial, pois ele disse que nós o tínhamos desrespeitado ao gritar 'queremos a paz’”, acrescentou o ditador sandinista.

João Paulo II visitou a Nicarágua pela segunda vez em fevereiro de 1996, quando Violeta Barrios de Chamorro (1990-1997) estava no poder, e na ocasião ele descreveu sua primeira visita ao país como uma “grande noite escura”.

“Aqui temos outra expressão famosa indicando claramente sua preferência política, ideológica e não cristã”, comentou Ortega.

Críticas ao Vaticano

Em relação ao Vaticano, Ortega disse que “é apenas mais um Estado no mundo, que se tornou apenas mais um Estado intervencionista, a serviço dos imperialistas do mundo”.

“Lá não há democracia. [O Vaticano] tem uma linha de comando totalmente vertical, assim como na época dos imperadores romanos. Assim como os imperadores romanos fizeram, assim como Nero, Calígula”, afirmou.

As relações do governo da Nicarágua com a Igreja Católica vivem atualmente momentos de grande tensão, marcados pela expulsão e prisão de padres e pela proibição de atividades religiosas.

Ortega chamou padres, bispos, cardeais de “máfia”, enquanto o papa Francisco disse que o governo sandinista é uma “ditadura grosseira” em recente entrevista ao site de notícias Infobae, além de apontar “um desequilíbrio na pessoa que comanda” o país.

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