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Oriente Médio

Ditador egípcio amplia repressão e mortes em protestos chegam a 6

Manifestantes gritam slogans contra o ditador Mubarak: 30 anos no poder e possível fraude em eleições parlamentares | Mohammed Abed/AFP
Manifestantes gritam slogans contra o ditador Mubarak: 30 anos no poder e possível fraude em eleições parlamentares (Foto: Mohammed Abed/AFP)

Cairo - "Protestos não serão mais tolerados", afirmou ontem o Ministério do Interior do Egito. Demons­­tra­­ções públicas, consideradas ilegais no país – porém normalmen­­te toleradas pelo governo –, fo­­ram declaradamente banidas. Se­­gundo as autoridades, a partir de agora os participantes poderão ser presos e processados.

Mais de 700 pessoas foram detidas desde terça-feira, quando começaram as manifestações. Os protestos começaram durante o feriado nacional em homenagem à polícia e duraram até as primeiras horas de ontem.

Inspirados pelas manifestações que derrubaram o ditador da Tunísia Zine Al-Abidine Ben Ali há cerca de duas semanas, os egípcios começaram uma onda de protestos.

Os manifestantes protestaram contra a pobreza, o aumento dos preços e os altos índices de desemprego. O alvo é o ditador Hosni Mu­­barak, há 30 anos no poder e que se reelege sucessivamente de forma fraudulenta.

Depois do primeiro dia de ma­­nifestações, o dia de ontem pareceu mais calmo, porém ainda po­­dia se perceber uma tensão na ro­­tina.

"As pessoas estão se reunindo novamente para protestar de norte a sul do Cairo. Preferi ficar em casa hoje [ontem], pois estou as­­sustada e não sei que proporção is­­so vai tomar’’, afirmou a estudante egípcia Amina F., que não quis fornecer o so­­brenome.

Algumas pessoas evitavam sair nas ruas, principalmente du­­rante o final do dia, e muitas em­­presas finalizaram o expediente duas ou três horas antes, para não causar riscos a funcionários.

Segundo o engenheiro Ahmed El D., que participou das manifestações, podia-se perceber ontem uma maior agressividade dos po­­liciais.

"A polícia aborda qualquer um digitando no celular ou fazendo ligações. Mesmo assim, pela in­­dig­­nação das pessoas contra o go­­verno, sei que os protestos se­­guirão."

Repercussão

Os EUA, que têm no Egito um dos seus principais aliados na região, hesitaram em manifestar claro apoio a Mubarak. E a secretária americana de Estado, Hillary Clin­­­­ton, afirmou que o regime egípcio deveria permitir os protestos pacíficos, e não reprimi-los.

A União Europeia foi mais du­ra e disse que as manifestações demonstram a necessidade de democratização e maior respeito aos direitos humanos e civis no Egito.

Bloqueio

Com o intuito de conter os ânimos, as principais ruas, pontes e li­­nhas de metrô do Cairo foram blo­­queadas pelo governo ontem, e o policiamento foi reforçado em diversos pontos da capital.

O funcionamento do Facebook e do Twitter e a velocidade da in­­ternet também oscilaram durante todo o dia na tentativa de dificultar a comunicação entre os ma­­nifestantes.

O governo nega ter tido interferência na ação, mas as empresas confirmam que alguma alteração ocorreu nas redes sociais.

Os presos não foram apenas os envolvidos diretamente nos protestos. Outras pessoas consideradas "suspeitas" foram detidas em diferentes locais e momentos nos últimos dois dias.

Na noite de terça, um estudante foi preso enquanto fazia compras no centro e continua desaparecido, sem ter feito nenhum contato com a família ou amigos.

Na manhã de ontem, outro estudante da Universidade Alemã no Cairo, enquanto esperava o ônibus da faculdade, foi levado pela Segurança Nacional e solto apenas no fim do dia.

As embaixadas enviaram e-mails e atualizaram seus sites recomendando aos estrangeiros evitar pontos de tensão e lembrando de carregar cópias do passaporte e visto pelo país. Até a noi­­te, o site da Embaixada do Brasil no Cairo estava fora do ar.

Para a oposição, o partido de Hosni Mubarak venceu as eleições para o Parlamento, no final do passado, por meio de uma am­­pla fraude.

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