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A Polícia Nacional da Nicarágua informou que prendeu na noite desta terça-feira (8) o pré-candidato opositor à presidência do país Juan Sebastián Chamorro García, sob a acusação de "incitar a interferência estrangeira nos assuntos internos". Esta foi a quarta prisão de um candidato da oposição em uma semana.
Sobrinho da ex-presidente Violeta Barrios de Chamorro (1990-1997), ele foi preso em casa no sul da capital, Manágua. A residência foi invadida pela polícia, confirmou à Agência Efe a equipe de imprensa do político.
O pré-candidato presidencial pela Aliança Cidadãos pela Liberdade tinha sido convocado para ir nesta quarta-feira ao Ministério Público prestar esclarecimentos na condição de representante da Fundação Nicaraguense para o Desenvolvimento Econômico e Social (Funides), um "think tank" independente que ele dirigiu de 2014 a 2019.
Mais dois opositores – que não estão na disputa presidencial – foram detidos nesta terça-feira: o ex-presidente do Conselho Superior da Empresa Privada (Cosep) José Adán Aguerri e a integrante da Unab ( Unidade Nacional Azul e Branca, mesmo partido de Félix Maradiaga) Violeta Granera, que está sob custódia policial em sua residência, segundo nota da Polícia.
Outros opositores presos
Prima de Juan Sebastián e filha de Violeta Chamorro, Cristiana Chamorro, personalidade da oposição com maior probabilidade de ganhar as eleições presidenciais de novembro próximo, foi a primeira candidata a ser presa nos últimos dias.
O segundo foi Arturo Cruz, que foi embaixador nos Estados Unidos do governo de Daniel Ortega entre 2007 e 2009. Também, nesta terça, a Polícia Nacional prendeu o acadêmico e pré-candidato Félix Maradiaga.
Os opositores são "investigados pela prática de atos que minam a independência, a soberania e a autodeterminação, incitando a interferência estrangeira nos assuntos internos, apelando à intervenção militar, organizando-se com financiamento de potências estrangeiras para realizar atos de terrorismo e desestabilização", informou a polícia em comunicado.
Eles também são acusados de "propor e gerir bloqueios econômicos, comerciais e financeiros contra o país e suas instituições, exigindo, exaltando e aplaudindo a imposição de sanções contra o Estado da Nicarágua e seus cidadãos, e prejudicando os interesses supremos da nação".
Esses crimes estão contemplados na Lei de Defesa dos Direitos dos Povos a Independência, Soberania e Autodeterminação pela Paz, aprovada pela Assembleia Nacional, de maioria sandinista, em dezembro do ano passado.
Ditador
Com estas prisões, o caminho está aberto para uma nova reeleição de Daniel Ortega como presidente. Ele foi chamado de "ditador" nesta terça-feira pela subsecretária para a América Latina do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Julie Chung.
Ao comentar a prisão do terceiro candidato da oposição pelo regime, ela afirmou que não há margem para dúvidas de que Ortega é um ditador. "A comunidade internacional não tem escolha a não ser tratá-lo como tal", disse Chung no Twitter.
Ortega, de 75 anos, voltou ao poder em 2007. O líder sandinista está em seu segundo mandato como presidente da Nicarágua, após coordenar uma junta governamental de 1979 a 1985 e presidir o país pela primeira vez de 1985 a 1990.