Mais uma vez, o mundo vive a expectativa de um acordo para redução das metas de emissão de gases do efeito estufa (GEE), a fim de contornar os efeitos do aquecimento global. Esse acordo pode ser alinhavado até a próxima sexta-feira, quando termina em Varsóvia, na Polônia, a 19ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-19). E mais uma vez, também, prevalecem as poucas esperanças de que os países participantes concordem em adotar medidas mais impactantes. Questões políticas são apontadas como o principal entrave para que se avance nesse sentido.
Desde a última segunda-feira, representantes de 190 países estão reunidos na capital polonesa para discutir os efeitos das mudanças climáticas e ações para tentar minimizá-los. O objetivo maior é definir as bases de um acordo que seria assinado em 2015, durante o próximo grande encontro climático marcado para Paris, na França. A ideia é fazer com que as potências se comprometam a reduzir suas emissões de gases, o que não foi possível no último encontro, realizado em 2009 em Copenhaguen (Dinamarca). Na oportunidade não houve consenso entre os participantes sobre os níveis de redução.
Na primeira semana de debates, o que se viu mais uma vez foram estatísticas alarmantes, cobranças, mas pouco resultado prático. De concreto, foi apresentado um parecer do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), indicando que, para conter o aquecimento global em 2°C, é necessário que as emissões de GEE (que incluem dióxido de carbono e metano, entre outros) sejam reduzidas pela metade até 2050.
Divisão
O impasse está no volume de redução que caberá a cada país, algo discutido pela Organização das Nações Unidas (ONU) desde 1992. O Protocolo de Kyoto, firmado em 1997, estabeleceu que apenas os países desenvolvidos cortassem suas emissões. Agora, as potências defendem que os países pobres também sejam incluídos no acordo. Atualmente a China é responsável pela maior parte das emissões globais de CEE (23%), seguida pelos Estados Unidos (15%) e União Europeia (11%).
Dana Nuccitelli, cientista norte-americano e articulista do jornal britânico The Guardian, acredita que a redução na emissão de gases poluentes é uma questão muito mais política do que técnica. Em artigo publicado no início do mês ele lembra que não apenas nos Estados Unidos, mas em países como Austrália e Canadá, há restrições de grupos políticos a ações governamentais. "Do ponto de vista da gestão de riscos, falhar na redução da emissão de gases do efeito estufa é simplesmente estúpido. A oposição às ações climáticas não é sobre ciência, é sobre política", afirma.
Conferência alerta para catástrofes
Realizada sob o impacto do tufão Haiyan, que varreu as Filipinas no final de semana passado e provocou um volume estimado de 10 mil mortes, a COP-19 foi palco de discursos que cobraram uma ação mais efetiva das grandes potências para evitar novas catástrofes.
Apesar de haver controvérsias sobre a relação direta entre mudanças climáticas e desastres naturais, alguns estudos apontam para o agravamento da situação caso não sejam tomadas medidas mais incisivas.
Temperaturas
Segundo o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o aumento na emissão de gases do efeito estufa vai elevar as temperaturas, intensificando assim a possibilidade de tempestades e ciclones tropicais, causados pelo encontro de massas de ar quente e frio.
"Se estamos fazendo com que a atmosfera esteja mais carregada com umidade, qualquer tempestade tem grande potencial para se tornar mais intensa", afirma George Tselioudis, pesquisador da Nasa.
Além disso, o aquecimento aumentou o nível de água dos oceanos em 3,2 milímetros por ano, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Isso deixaria as populações costeiras mais vulneráveis às tempestades.