Ouça este conteúdo
Na eleição presidencial do Paraguai, que será realizada neste domingo (30), um domínio político sem paralelo na América do Sul será posto à prova: o conservador Partido Colorado, que desde 1948 só deixou de ocupar a presidência paraguaia durante os governos de Fernando Lugo (2008-2012) e Federico Franco (2012-2013), tentará se manter no poder por mais cinco anos.
O candidato da legenda desta vez é Santiago Peña, economista de 44 anos, que integrou o Conselho de Administração do Banco Central do Paraguai e foi ministro da Fazenda entre 2015 e 2017, no governo de Horacio Cartes, padrinho político do jovem candidato.
Seu principal adversário é Efraín Alegre, do Partido Liberal Radical Autêntico, advogado de 60 anos que encabeça uma coalizão que vai da esquerda à centro-direita. Ele foi ministro das Obras Públicas e Comunicações do Paraguai entre 2008 e 2011, na gestão de Lugo.
Ambos aparecem nas duas primeiras posições nas pesquisas, mas a liderança alterna conforme o instituto que realiza os levantamentos – historicamente pouco confiáveis no Paraguai.
Alegre, que está na sua terceira candidatura presidencial, tem uma ajuda que pode ser decisiva neste domingo: a divisão interna do Partido Colorado.
A legenda conservadora foi o partido oficial da ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989) e venceu quase todas as eleições presidenciais paraguaias desde a volta da democracia. A exceção foi 2008, mas o governo de Lugo terminou com escândalo e impeachment.
O Partido Colorado retornou ao poder já em 2013, com a vitória de Horacio Cartes, e é justamente ele o responsável pela atual divisão dentro da legenda.
“Cartes é uma figura muito autoritária e dominante, desde que praticamente comprou suas eleições dentro do Partido Colorado para ser candidato em 2013”, disse Fernando Masi, sociólogo e economista que dirige o Centro de Análise e Difusão da Economia Paraguaia (Cadep), em entrevista à BBC, mencionando o poder econômico de Cartes, empresário e um dos homens mais ricos do Paraguai.
A resistência a Cartes dentro do Partido Colorado aumentou no ano passado, quando ele foi acusado pelos Estados Unidos de contrabando de cigarros, lavagem de dinheiro e financiamento a grupos considerados terroristas pela Casa Branca, como o Hezbollah.
O ex-presidente teve seu nome incluído na lista de pessoas que não podem entrar nos Estados Unidos ou fazer negócios com as empresas da maior economia do mundo.
Em dezembro, pouco antes da eleição interna e das prévias do Partido Colorado, o atual presidente paraguaio, Mario Abdo Benítez, chamou Cartes de “o maior contrabandista de cigarros da região”.
“Isso não é difamação nem calúnia, porque todo o continente sabe, o hemisfério [sul], todos sabem que ele é o maior contrabandista de cigarros da região”, afirmou.
Porém, dias depois, Cartes demonstrou força política ao vencer a ala de Abdo Benítez: foi eleito líder do partido e conseguiu que Peña se tornasse o candidato colorado à presidência.
Como resultado, Abdo Benítez e seu círculo próximo não participaram da campanha do indicado, embora também não a tenham atrapalhado.
“Não há fratura, mas também não há abraço”, destacou Alberto Acosta Garbarino, analista e diretor da organização Desenvolvimento em Democracia, em recente evento virtual organizado pelo Conselho Argentino de Relações Internacionais.
O especialista destacou, entretanto, que apesar dessa divisão interna, o Partido Colorado se beneficia do fato de que Alegre não conseguiu unir todas as legendas da oposição – o que pode fazer diferença num sistema eleitoral em que não há segundo turno.
Os votos no ex-senador Paraguayo Cubas, que em 2019 pediu a morte de “pelo menos 100 mil brasileiros bandidos”, podem influenciar a disputa, já que o candidato outsider aparece em terceiro nas pesquisas, sempre com mais de 10% das intenções de voto.
“Quando as coisas estão equilibradas, quem tem estrutura e recursos tem mais chances de vencer. O Partido Colorado tem mais chances de vencer. Mas há aqueles imponderáveis e pode haver surpresas. Vai ser uma eleição equilibrada. As pesquisas não são confiáveis. Os meios de comunicação estão polarizados. Há muita incerteza entre os eleitores”, acrescentou Garbarino.