A oeste...
Está o primeiro e mais pobre país da América Latina.
PIB: US$ 11,61 bilhões (2009)
PIB per capita: US$ 1.300
Expectativa de vida: 60 anos
Mortalidade infantil: 59 a cada 1.000 nascidos vivos
IDH: 0,532 (140ª do mundo)
Portadores de aids: 1,32% da população.
Exportações: roupas manufaturados e café 80% vivem abaixo da linha de pobreza. República Dominicana tem participação de 8,9% nas exportações do país.
Fonte: Cia World Factbook, Pnud.
... e A leste
Está um dos principais destinos turísticos das Américas.
PIB: 78,89 bilhões (2009)
PIB per capita: US$ 8.200
Expectativa de vida: 73 anos
Mortalidade infantil: 25 a cada 1.000 nascidos vivos.
IDH: 0,777 (90º do mundo)
Portadores de aids: 0,64% da população
Exportações: café, tabaco e açúcar. 42,2% da população está abaixo da linha de pobreza. Haiti tem participação de 9,3% nas exportações do país.
Fonte: CIA World Factbook, Pnud.
Indicadores sociais diferem
Apesar de ambos os países ainda enfrentarem problemas típicos do subdesenvolvimento, como pobreza em larga escala e deficiências nos setores de saúde e educação, é nítida a diferença a favor da República Dominicana ao se comparar indicadores sociais das duas nações caribenhas. A conclusão provém do estudo "Objetivos de Desenvolvimento do Milênio uma visão a partir da América Latina e do Caribe", realizado pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), com o apoio da Organização das Nações Unidas.
No setor de saúde, a mortalidade materna no Haiti é sete vezes maior que a dominicana. A cada mil partos do lado oeste da ilha, 523 mães perdem a vida. Na República Dominicana, este número é de 77. Este país consegue vacinar 82% de suas crianças, enquanto o Haiti alcança, no máximo 53% de taxa de vacinação.
A fome aflige mais gravemente o Haiti, onde 17,3% das crianças estão com o peso abaixo do normal. No vizinho, a proporção é de 5,3% de desnutrição. Metade dos haitianos e um quarto dos dominicanos consomem menos calorias do que o necessário.
Os índices de alfabetização também são melhores na República Dominicana, onde 92% da população sabe ler e escrever. No Haiti, a taxa é de 62%. O país devastado pelo terremoto tem também o pior saneamento básico da América Latina. O serviço chega apenas à metade da população urbana. Na República Dominicana, 67% dos habitantes da cidade têm saneamento.
Para Carlos Eduardo Vidigal, professor de História da América da Universidade de Brasília, os indicadores mostram disparidades que devem permanecer. "O desenvolvimento socioeconômico é um processo extremamente complexo e os dois países seguiram trajetórias muitos distintas, sendo o Haiti um dos países mais pobres do mundo. Embora os dois tenham população equivalente, o PIB da República Dominicana é seis vezes maior que o do Haiti. Não está no horizonte um entendimento capaz de unir os esforços dos dois países em quaisquer áreas", diz.
A ilha de Hispaniola, que hoje abriga o Haiti e a República Dominicana, já foi uma única nação. Nela, Cristóvão Colombo aportou em 1492 e iniciou o grande projeto chamado América. Aquele foi o primeiro pedaço de chão colonizado por espanhóis no Novo Mundo. Hoje, a fronteira seca da maior ilha caribenha é reforçada por divisões políticas, econômicas e culturais. Um afastamento que nem mesmo a tragédia do terremoto parece ser capaz de reduzir.
Durante o auxílio ao país devastado pelo terremoto, a ONU foi obrigada a recrutar novos soldados após o Haiti recusar militares dominicanos. Restou à República Dominicana, portanto, ceder espaço para a instalação de uma base transnacional para envio de ajuda ao país.
A atitude orgulhosa nas relações com o vizinho, também presente na República Dominicana, remonta à gênese dos dois países. Até 1697, Hispaniola era uma colônia mista de espanhóis e franceses. Naquele ano, os dois países assinaram o Tratado de Rijswijk, que dividiu o território em proporção semelhante à atual. No século seguinte, as duas colônias viveram histórias distintas, e mantinham a cordialidade. Mas a partir do século 19, as nações agora independentes entraram em conflito.
O Haiti foi o primeiro país latino-americano a conquistar a independência, em 1804. Quando a República Dominicana fez o mesmo, em 1821, foi invadida pelo vizinho nove semanas depois. O ditador haitiano, Jean Pierre Boyer, nutria sonhos de unificação, porém a investida criou entre os dois povos uma animosidade jamais superada. "No caso da República Dominicana, a dominação haitiana, entre 1822 e 1844, sem dúvida contribuiu para uma rejeição em relação aos vizinhos haitianos. A reanexação à Espanha, em 1861, e o novo movimento de independência, vitorioso em 1865, marcaram o fortalecimento do nacionalismo dominicano", explica Carlos Eduardo Vidigal, professor de História da América da Universidade de Brasília.
Um outro evento apontado como fundamental para entender o processo de rivalidade acontece no século 20. Em 1937, durante o regime dominicano de Leônidas Trujillo, ocorreu um dos mais intensos massacres da história americana. Trujillo ordenou que todos os haitianos que habitavam a República Dominicana fossem mortos. O exército dominicano executou 35 mil pessoas em seis dias, no episódio conhecido como "o corte". "A ascensão de Trujillo, que governou o país em regime ditatorial entre 1930 e 1961, indubitavelmente ecoa na República Dominicana contemporânea, embora se possa afirmar que nas últimas décadas o país alcançou uma estabilidade relativa", analisa Vidigal.
Negros e europeus
Culturalmente, os dois países se afastaram desde a escolha pelos modelos de independência. Enquanto o Haiti foi o primeiro país a abolir a escravidão e fundar uma república negra liderada por um ex-escravo, a República Dominicana manteve a tradição europeia. Ainda hoje, muitos dominicanos se consideram culturalmente europeus. "O Haiti é um país profundamente influenciado por seu processo de independência, caracterizado pela liderança negra e mulata, e pela violência dirigida à elite francesa", afirma Vidigal. "A região foi destruída economicamente no processo e os países vizinhos, como os Estados Unidos, por exemplo, trataram de isolar o Haiti, temerosos de sofrer influência daquele movimento", relata.
Vidigal não acredita que o terremoto possa unir permanentemente as duas partes da ilha: "A aproximação é temporária e de caráter humanitário. O Haiti, muito provavelmente, voltará a ser esquecido pelas grandes potências. Apenas uma ligeira aproximação com o vizinho insular é factível".
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Revolução negra
Escravos conquistam abolição e fundam a primeira república negra da América
1774 Os escravos negros, liderados por Toussainte L'Ouverture, conquistam a abolição da escravidão.
1804 É declarada a independência do Haiti, a primeira república negra da América Latina, sob liderança do ex-escravo Jean-Jacques Dessalines.
1847 Fautin Soulouque chega ao poder e conquista o território da República Dominicana. A luta com este país enfraquece seu governo e ele acaba sendo deposto em 1858.
1915 Estados Unidos invadem militarmente o Haiti e em 19 anos reestruturam as finanças e criam uma nova constituição para o país.
1957 Após rebeliões populares que derrubaram Raoul Magloire e outros nove governantes, François Duvalier, conhecido como "Papa Doc", é eleito sob suspeita de fraudes eleitorais.
1964 Papa Doc aprova uma constituição que lhe dá mandato vitalício. Seu governo é marcado por violência e repressão comandada pelo tontons macoutes (bichos-papões).
1971 Duvalier morre e seu filho, Jean-Claude Duvalier, assume o poder. O Baby Doc comanda o país por 15 anos com corrupções e protestos populares.
1986 Pressionado pelas rebeliões da população, Baby Doc foge para a França e, em seu lugar, assume uma junta militar.
1990 Nova Constituição permite a volta das eleições diretas. A população elege Jean-Bertrand Aristide.
1991 Logo após ser empossado, Aristide é deposto por um golpe militar liderado por Raoul Cédras. Sanções econômicas são impostas.
1995 René Préval é eleito presidente. O exército haitiano é dissolvido para dar lugar a tropas de ocupação chefiadas pela ONU.
2000 Sob o clima de desconfiança, Aristide vence as eleições deste ano com 92% dos votos.
2004 Pressionado pelas rebeliões armadas, Aristide renuncia e exila-se na África do Sul. É instalada a Minustah, chefiada pelo Brasil.
2006 Eleições presidenciais e para o parlamento são feitas sob um clima democrático. Préval vence o pleito e assume a Presidência.
2010 Um terremoto de 7 graus na escala Richter, com epicentro a 15 km da capital Porto Príncipe, atinge o país e faz ao menos 170 mil mortos. Nações de todo o mundo se mobilizam para transferir recursos e efetivo militar para os haitianos.
Fonte: Redação
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Instabilidade
República Dominicana tem histórico de mudanças abruptas de comando
1821 Proclamação da independência por José Núñez de Cáceres, criando o Estado Independente do Haiti Espanhol.
1822 Tropas haitianas invadem a ilha.
1844 Juan Pablo Duarte e Pedro Santana proclamam nova independência.
1861 Espanha reconquista a ilha permanecendo até 1865, quando a população restaura sua independência.
1887 Ulises Heureaux chega ao poder e inicia o regime ditatorial.
1899 Assassinato de Heureaux.
1916 Invasão militar dos Estados Unidos. Chamada de Primeira Invasão Norte-Americana, dura até 1924.
1930 General Rafael Leónidas Trujillo chega ao poder com ajuda norte-americana e instala uma ditadura.
1937 Quase 35 mil haitianos residentes na República Dominicana são mortos a mando de Trujillo.
1961 Trujillo é assassinado e a ditadura termina.
1962 Juan Bosh é eleito presidente e permanece no cargo por sete meses até ser deposto por um golpe militar.
1965 Uma guerra civil, iniciada por rebeldes pró-Bosh chamados constitucionalistas, retira os golpistas do poder.
1965 Forças Armadas norte- americanas, com auxílio brasileiro, lutam contra os constitucionalistas e ocupam a ilha.
1978 Guzmán Fernández é eleito por voto popular pelo opositor Partido Revolucionário Dominicano.
1982 Fernández suicida-se. Jorge Blanco assume o governo em meio à crise econômica gerada pela baixa no preço do açúcar.
1984 Manifestações populares decorrentes da alta nos preços dos produtos básicos deixam pelo menos 50 mortos.
1986 Joaquín Balaguer retorna à presidência no momento em que o país passa por uma grave crise de fornecimento de energia, que se estende até 1998.
1994 A vitória pela terceira vez consecutiva de Balaguer gera contestações por parte do Partido Revolucionário Dominicano, levando à realização de novo pleito dois anos depois.
2000 A República Dominicana entra no acordo de livre comércio da Comunidade do Caribe (Caricom).
Fonte: Redação