Manifestação em frente ao Hospital Pediátrico José Manuel de los Ríos, em 02 de novembro de 2018, em Caracas. A ONG Prepara Familia denunciou que pelo menos 19 crianças morreram desde 2017 como consequência de de falhas no serviço nefrológico do hospital pediátrico mais importante do país, enquanto pediu que o governo retomasse o programa de transplantes, que na época já estava suspenso havia 17 meses.| Foto: EFE/Miguel Gutiérrez
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A doação de órgãos de pessoas falecidas está paralisada na Venezuela há cinco anos, durante os quais 1.200 pessoas deixaram de receber um transplante, segundo cálculos da Organização Nacional de Transplantes (ONTV).

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Essa organização independente faz a estimativa considerando que, em anos como 2012 e 2013, quando o Sistema de Procura de Órgãos e Tecidos (Spot) estava operando e sob supervisão da ONTV, foram realizados cerca de 400 transplantes anuais entre doadores falecidos e de vivos para vivos.

No entanto, em 2014, o Estado entregou tudo relacionado ao Spot a uma instituição dependente do Ministério da Saúde chamada Fundavene, que em junho de 2017 anunciou uma suspensão temporária que hoje, cinco anos depois, continua em vigência.

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A responsável pelas Relações Institucionais da ONTV, Lucila Cárdenas, denunciou que essa paralisia impede os pacientes de optarem pela doação e que também impossibilita a ajuda de doadores voluntários.

"Há muitas vidas que se perderam, estatisticamente falando (...) pode-se dizer que existem aproximadamente entre 1.100 e 1.200 pessoas que poderiam ter se beneficiado de um transplante de órgão que não ocorreu, e destes 10% seriam crianças", lamentou Cárdenas.

Suspensão indefinida

A suspensão do Spot foi atribuída à falta de medicamentos indutores e imunossupressores que os transplantados devem receber para não rejeitar o enxerto.

Porém, representantes da ONTV insistem que tanto a escassez desses medicamentos quanto o estado de deterioração do sistema público de saúde são condições que convergem na impossibilidade de realizar esse procedimento atualmente, exceto em pacientes que encontram um doador entre seus familiares e têm recursos para pagar a operação em um centro privado.

"Neste momento, na Venezuela há aproximadamente 8.000 pessoas em diálise; destas 8.000, 40% poderiam se qualificar para um transplante e 10% estão prontas para se submeter a tal transplante. Mas neste momento na Venezuela só são realizados transplantes de vivos para vivos", explicou Cárdenas.

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A responsável da ONTV esclareceu que essas intervenções são realizadas apenas em clínicas privadas e "a um custo que deixa de fora 98% dos venezuelanos que precisam de um transplante".

Entre as consequências da paralisia do Spot, Cárdenas destacou que, em 2021, 14 crianças morreram à espera de um rim na Unidade de Nefrologia do principal hospital pediátrico de Caracas, e que este ano já foram registrados seis óbitos.

Uma porta-voz da Fundavene informou por telefone que não poderia fornecer informações sobre o Spot, mas que "os transplantes já começaram".

No entanto, na última postagem em sua conta do Instagram, em 2 de abril, a organização afirmou: “Continuamos trabalhando para ativar o Sistema de Procura de Órgãos, Tecidos e Células”.

Esperança que vai e vem

Yohana Bonilla tem 44 anos e mais de 11 deles com insuficiência renal. Nesse período, recebeu dois transplantes sem sucesso, o último deles após ser beneficiada pelo Spot em 2013.

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"Fui selecionada dois anos depois de ser incluída na lista. Eles me ligaram uma manhã para fazer o transplante e me transplantaram de novo (...) e foi muito emocionante porque você tem a esperança de que eles vão te ligar a qualquer momento e foi algo aleatório", relatou.

Bonilla, no entanto, sofreu complicações e perdeu o novo rim. Agora ela não tem outro doador e não pode esperar por um voluntário porque o sistema de procura está fechado, assim que só lhe resta continuar o tratamento de hemodiálise que a mantém viva.

Na Venezuela, a esperança só é possível para pacientes que necessitam de transplante de rim ou fígado e que encontram essa doação em um familiar, já que o restante dos órgãos transplantáveis ​​só pode ser obtido de doadores falecidos.

É o caso de Eugenio Martínez, que teve a sorte de ser compatível com sua mãe, Beatriz del Gallego e, juntos, superaram a pista de obstáculos que esse processo representa.

"É muito duro, é muito difícil, você tem que viver para ver como é difícil para as pessoas que estão nesse processo (...) É uma benção, ainda mais neste país onde as coisas são tão complexas", afirmou Martínez.

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Essa família teve que arrecadar fundos para custear a intervenção cirúrgica, realizada em 2016, uma vez que era inviável a realização do transplante na rede pública.

Apesar de tudo, eles veem o procedimento médico como um teste bem-sucedido com o qual esperam dar esperança a outros pacientes crônicos que vivem contra o relógio e aguardam um transplante que nunca chega.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]