A serviço do governo Roosevelt, Walt Disney se tornou um embaixador contra o nazismo| Foto: Alan Fisher (Coleção New York World-Telegram e The Sun)/Biblioteca do Congresso

Testemunhas

Equipe de desenhistas fazia observações sobre a vida latino-americana

A expedição dos estúdios Disney saiu dos EUA em dois grupos, principalmente porque o seguro de vida de Walt Disney o proibia de viajar com mais de sete membros da equipe.

Os que viajavam com Disney pegaram o avião em 15 de agosto de 1941 em Miami Beach, na Flórida, passaram uma noite em Porto Rico e depois foram ao Brasil, à Argentina (onde conheceram vários gaúchos que depois apareceriam em Alô, Amigos), ao Uruguai e ao Chile.

"Walt e a equipe faziam muitas observações sobre a realidade que depois conservavam para usos posteriores, em algumas ocasiões para usá-las muitos anos depois", explicou o documentarista Ted Thomas, um especialista na obra de Disney.

Do Chile, a equipe americana pegou um navio em Valparaíso que a levou até Nova York através do canal do Panamá, com direito a paradas em Peru, Equador, Colômbia e Panamá.

Quando o grupo chegou à Colômbia, participou de uma expedição fluvial. Segundo Thomas, as fotos dessa expedição mostram que a embarcação usada pelo grupo é "enormemente parecida" com os navios de cruzeiro pela selva elaborados para a Disneylândia, inaugurada em Anaheim, no estado da Califórnia, em 1955.

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Trajetória

Produtor, diretor e roteirista, entre outras funções, Walt Disney se destacou na animação

• Nasceu no dia 5 de dezembro de 1901, em Chicago.

• Começou a carreira cinematográfica com a pequena produtora de animação Laugh-O-Gram, fundada com o irmão e um amigo.

• Em Hollywood, criou em 1928 seu personagem mais famoso: Mickey Mouse.

• Lançou em 1937 Branca de Neve e os Sete Anões, o primeiro longa-metragem. Na sequência vieram outras animações de sucesso, como Pinóquio, Fantasia e Bambi.

• Até hoje, Walt Disney é o recordista em indicações ao Oscar (59) e prêmios conquistados (22). O último foi em 1968 pelo curta Ursinho Puff e o Dia Chuvoso. Também recebeu quatro prêmios honorários.

• Morreu em 15 de dezembro de 1966, aos 65 anos, de câncer.

Walt Disney (1901-1966) e vários artistas do estúdio que levava o nome dele fizeram uma viagem de duas semanas e meia pela América Latina em 1941, numa turnê paga pelo governo dos Estados Unidos que serviu de inspiração para produções clássicas do homem que criou Mickey Mouse e Pato Donald, entre vários outros personagens.

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Eram tempos da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), e o governo do então presidente Franklin Roosevelt olhava com receio a crescente influência que a Alemanha nazista e as potências do Eixo tinham sobre os países latino-americanos. Para reverter a situação, Washington decidiu enviar o melhor embaixador do país: Walt Disney, que à época já era uma celebridade internacional.

"A viagem pela América Latina trouxe uma renovação artística para Walt Disney", diz Theodore "Ted" Thomas, filho do animador Frank Thomas, que trabalhou próximo de Disney e participou da expedição ao continente sul-americano. A viagem dos americanos deu origem ao documentário dirigido por Ted Thomas, chamado Walt & El Grupo, com detalhes sobre o que teria acontecido aos embaixadores dos EUA.

Produtos diretos da turnê foram dois dos títulos menos conhecidos do período clássico da Disney, Alô, Amigos (1942) e Os Três Cavalheiros (1944), ambientados em paisagens latino-americanas como a Patagônia, os Andes, o Rio de Janeiro e a Cidade do México e realizados por pedido expresso do governo dos EUA.

No entanto, de acordo com Thomas, a importância da viagem para Disney foi muito além e a influência dela se estende a títulos icônicos como Cinderela (1950), Alice no País das Maravilhas (1951) e Peter Pan (1953).

"A viagem teve um grande impacto sobre o próprio Walt e todos os artistas que o acompanharam. Talvez o caso mais destacado seja o de Mary Blair. Durante o tempo em que passou na América Latina, o estilo e a paleta de cores de Blair sofreram uma grande transformação, adquirindo muitas influências da natureza e das culturas latino-americanas", explicou Thomas.

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O novo estilo adquirido por uma das poucas mulheres artistas do estúdio — e da máxima confiança de Disney — fez dela a principal responsável pelo desenvolvimento gráfico das animações produzidos no início da década de 1950.

Mitos

Já falaram que Walt Disney era antissemita, racista, sexista e informante do FBI. A especulação mais absurda diz que o corpo dele (ou só a cabeça) estaria congelado numa câmera sob a Disneylândia. Esta última informação é mentira, mas as outras ainda são debatidas por historiadores e especialistas. Segundo o biógrafo Neal Gabler, é fato que Disney era próximo de antissemitas, que produziu um filme racista (Song of the South) e que tinha reservas quanto a mulheres fazerem trabalho criativo.