O novo texto
Veja trechos do documento do Vaticano, o qual reafirma que a Igreja Católica é a única e verdadeira igreja de Cristo.*
"Cristo constituiu sobre a terra uma única Igreja e institui-a como grupo visível e comunidade espiritual (...) Esta Igreja, como sociedade constituída e organizada neste mundo, subsiste na Igreja Católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos bispos em comunhão com ele."
"...as próprias Igrejas e comunidades separadas, embora pensemos que têm faltas, não se pode dizer que não tenham peso ou sejam vazias de significado no mistério da salvação, já que o espírito se não recusa a servir-se delas como de instrumentos de salvação."
"Como porém a comunhão com a Igreja Católica, cuja cabeça visível é o bispo de Roma e sucessor de Pedro, não é um complemento extrínseco qualquer da Igreja particular, mas um dos seus princípios constitutivos internos, a condição de Igreja particular, de que gozam essas venerandas comunidades cristãs (a Igreja Ortodoxa), é de certo modo lacunosa."
"(As Igrejas protestantes), ditas comunidades eclesiais que, sobretudo pela falta do sacerdócio sacramental, não conservam a genuína e íntegra substância do mistério eucarístico, não podem, segundo a doutrina católica, ser chamadas "Igrejas em sentido próprio."
* Os trechos fazem citações a passagens da constituição dogmática "Lumen Gentium", do decreto sobre ecumenismo "Unitatis redintegratio", da carta aos bispos "Comuninonis notios" e da declaração "Dominus Iesus".
Roma O Vaticano tornou público ontem um documento chamado "Respostas a questões relativas a alguns aspectos da doutrina sobre a Igreja", no qual reafirma o dogma de que a Igreja Católica é a verdadeira e única Igreja de Cristo e declara que as Igrejas protestantes não podem ser chamadas de Igrejas.
Elaborado pela Congregação para a Doutrina da Fé e ratificado pelo Papa Bento XVI, o texto, em forma de cinco questões e suas respectivas respostas, pretende "dar com clareza a genuína interpretação de algumas afirmações" sobre a natureza da Igreja Católica originadas do Concílio Vaticano 2.º (1962-65).
As "Respostas..." afirmam que o concílio não quis modificar a "precedente doutrina sobre a Igreja". O texto declara então, a título de esclarecer dúvidas, que as diversas Igrejas nacionais ortodoxas podem efetivamente ser chamadas de Igrejas, dado que mantêm entre seus ritos a eucaristia e a ordenação de sacerdotes. Assim, "instrumentos de santificação" estão presentes também nelas.
A Igreja Ortodoxa é aquela formada pelos cristãos do Leste Europeu, do Egito e da Ásia e que nasceu de um cisma entre as dioceses de Roma e de Constantinopla, em 1054.
Porém, segue o texto, essas Igrejas ortodoxas carecem da ligação com a católica a verdadeira Igreja de Cristo e, portanto, são "lacunosas".
Já sobre algumas outras comunidades cristãs, como as Igrejas protestantes, entre as quais a luterana e a calvinista, nascidas no século 16 da Reforma dentro do catolicismo, as "Respostas.." atestam que não podem ser consideradas Igrejas, dado que não contemplam o sacerdócio e não adotam a eucaristia, que simboliza a comunhão com Cristo.
Reação
Líderes das Igrejas ortodoxas e protestantes criticaram o documento, afirmando que o texto representa um obstáculo ao avanço do diálogo ecumênico e inter-religioso.
"É um texto hostil ao ecumenismo, porque considera 'parciais' as Igrejas não-católicas", diz o reverendo Manoel de Souza Miranda, da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil.
"É um grande passo para trás na relação da Igreja com as outras comunidades cristãs", disse ao jornal "Coriere della Sera" o presidente da Federação das Igrejas Evangélicas da Itália, Domenico Maselli.
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