Um novo documento do Vaticano sobre a homossexualidade no clero católico despertou nesta quarta-feira uma tempestade de críticas dos que consideram que a Igreja está equivocada e usa os homossexuais como bodes expiatórios para seus escândalos sexuais.

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O documento diz que a Igreja pode admitir como padres os que tiverem claramente superado suas tendências homossexuais durante pelo menos três anos, mas proíbe no clero homens com tendências homossexuais "profundamente arraigadas".

O texto, a ser oficialmente divulgado na próxima semana, agrada a conservadores católicos e de outras religiões, mas atrai críticas de liberais.

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- Parece uma tática diversionária para afastar a atenção do público do verdadeiro problema do Vaticano, que é o abuso sexual de crianças por parte do clero - disse Peter Tatchell, do grupo homossexual britânico OutRage!. - O papa deveria estar combatendo os pedófilos dentro da Igreja, não fazendo uma caça às bruxas entre os gays.

O documento reforça a atual política do Vaticano, a qual, para muitos, não é adequadamente cumprida. O Vaticano diz que ele foi redigido diante do fato de que 80% das vítimas de abusos cometidos por padres nos Estados Unidos eram meninos.

- Num momento em que a Igreja deveria assumir a responsabilidade pelo dano criado por um devastador escândalo de abuso sexual, está em vez disso usando os gays como bodes expiatórios - disse Joe Solmonese, presidente da Human Rights Campaing, entidade pró-homossexuais dos EUA. - Este decreto é uma distração que nem mantém as crianças seguras nem responsabiliza os criminosos.

Mas houve quem, de fora da Igreja Católica, apoiasse o documento. Foi o que fez a ala conservadora da Igreja Anglicana, ela própria dividida pela questão de ordenar homossexuais.

- Esta é uma política que estamos promovendo e que apoiamos de todo o coração - disse o cânon Tunde Popoola, diretor de comunicação da Igreja Anglicana da Nigéria, uma das mais conservadoras. - Enche meu coração de alegria saber que outros estão acompanhando tal política.

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Mas o padre Tom Reese, escritor e acadêmico jesuíta americano, acha que o Vaticano não fez a lição de casa sobre o tema.

- O Vaticano está tomando decisões sobre a conveniência de ordenar homossexuais sob total ignorância de quantos padres atuais são homossexuais, como observam o celibato e como cumprem seu ministério - disse.

Reese, que perdeu o emprego como editor do semanário jesuíta "América", por desagradar ao Papa Bento XVI, considera que o Vaticano não está entendendo nada.