Esta segunda-feira (24) marca dois anos desde que a Suprema Corte dos EUA revogou o acesso constitucional ao aborto, em uma decisão histórica que ficou conhecida como Roe v. Wade. A medida retirou os poderes federais para legislar sobre o assunto e redirecionou aos estados americanos.
Desde então, mais de 20 estados liderados por republicanos impuseram restrições e conseguiram alterar a legislação local que permitia o procedimento para matar bebês que ainda estavam em processo de formação. Entre eles está a Flórida, governada pelo republicano Ron DeSantis, que restringiu o aborto até a 6ª semana de gestação em maio.
Apesar da vitória a favor da vida em nível federal, muitas americanas continuam buscando o aborto como opção fora do país, principalmente no México, país vizinho que descriminalizou o procedimento em todo o território nacional no ano passado.
De acordo com o portal The Conversation, a busca por clínicas mexicanas cresceu nos últimos anos devido às facilidades encontradas no país latino para abortar. Isso porque as mulheres que querem interromper propositalmente a gravidez não precisam apresentar documentações que comprovem sua origem, tornando o processo facilmente aceito naquele país.
Uma clínica de aborto na cidade fronteiriça de Tijuana informou à NPR que, desde a decisão Roe v. Wade, o número de clientes americanas que procuram o México para o procedimento duplicou, saltando de 25% para 50%.
Como efeito da crescente procura a partir dos EUA, o número de locais para realizar o aborto também foi ampliado. Um dos mais recentes que abriu está localizado estrategicamente em Cancún, um dos destinos mais populares para turistas.
O próprio estabelecimento admitiu que a abertura intencional de uma nova clínica na região está ligada ao fato de que inúmeros aeroportos dos EUA oferecem voos diretos para a cidade mexicana.
Tópico em pauta nas eleições dos EUA
O aborto é um dos principais tópicos que dividem os eleitores americanos nas eleições presidenciais de novembro, que possivelmente serão disputadas pelo democrata Joe Biden, o atual líder da Casa Branca, forte defensor da pauta abortista, e pelo republicano Donald Trump, que tem sido pressionado por seu eleitorado para ser mais enfático quanto à defesa da vida em nível federal.
No dia em que completam-se dois anos da Roe v. Wade, a campanha de Biden divulgou um novo anúncio atacando Trump, culpando o ex-presidente pelo restrição ao procedimento em diversos estados do país - uma vitória a favor da vida.
Em um comunicado nesta segunda-feira (24), Biden deu declarações por meio de um comunicado oficial sobre o assunto.
“Há dois anos, a maioria de Donald Trump na Suprema Corte destruiu a liberdade fundamental das mulheres de acessar os cuidados de saúde que precisam e merecem”, disse o democrata.
“As consequências foram devastadoras: em estados de todo o país, os aliados de Trump decretaram proibições extremas e perigosas do aborto – muitas delas sem exceção por violação ou incesto – que estão a colocar a vida das mulheres em risco e a ameaçar os médicos com pena de prisão”, acrescentou o presidente americano.
Biden ainda afirmou que “se [Trump] tiver oportunidade, não há dúvida de que ele proibirá o aborto em todo o país, com ou sem a ajuda do Congresso”.
A vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, e a primeira-dama, Jill Biden, também se mobilizaram a favor do aborto nesta segunda na tentativa de mobilizar voluntários e eleitores.
Os eleitores republicanos, no entanto, esperam mais do ex-mandatário que disputará novamente o cargo chefe da Casa Branca. Em abril, Trump disse que as leis sobre aborto devem ser definidas por cada Estado dos EUA, afastando-se da proibição nacional do aborto, posicionamento que tem afastado alguns segmentos do Partido Republicano.
Em abril, ele declarou: “Minha opinião é que agora temos o aborto onde todos queriam do ponto de vista legal, os estados determinarão por voto ou legislação, ou talvez ambos”.
Há quatro anos, Biden raramente mencionava o acesso ao aborto em sua campanha eleitoral, temendo que a questão pudesse afastar os eleitores moderados. Agora, é um pilar fundamental de sua candidatura à reeleição.
Biden e Trump permanecem empatados nas pesquisas nacionais faltando menos de cinco meses para a eleição, enquanto Trump tem uma leve vantagem nos Estados que a decidirão, conforme mostram sondagens realizadas após a condenação criminal do republicano.
Em questões econômicas como a inflação, Trump tem uma pontuação mais alta entre os eleitores em geral do que Biden.
Mas as pesquisas e os resultados de iniciativas eleitorais estaduais mostraram que uma grande maioria dos eleitores rejeita proibições rígidas ao aborto.
Biden e Trump debaterão nesta quinta-feira (27) pela primeira vez neste ciclo de campanha eleitoral.
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