Uma possível terceira eleição em Israel, fraude na Bolívia e muitas outras confusões e traumas estão acontecendo em países que estão passando por processos eleitorais. Saiba mais sobre os principais impasses eleitorais ao redor do mundo.
Israel
Os israelenses podem ter que ir às urnas pela terceira vez este ano: o país e seus líderes estão tão divididos que nenhum partido conseguiu formar uma coalizão governante.
O impasse começou em abril, quando o partido Likud, do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, conquistou a maioria dos votos, mas não conseguiu formar um governo. Isso porque Avigdor Liberman, ex-amigo do primeiro-ministro, se voltou contra Netanyahu e se recusou a se juntar à coalizão.
No que era então um evento sem precedentes, as eleições foram convocadas novamente - para setembro. Os resultados, porém, foram basicamente os mesmos.
Liberman, ainda irritado com a aliança de Netanyahu com partidos ultraortodoxos, entre outras queixas, recusou-se a fazer parte de um governo liderado pelo Likud, com Netanyahu no comando. Então Benny Gantz, o chefe do segundo maior partido de Israel, Azul e Branco, teve a chance de formar um governo. Ele também não conseguiu construir uma coalizão forte o suficiente.
Agora, nas próximas três semanas, qualquer membro no parlamento de Israel poderá tentar formar uma coalizão governante. Se isso falhar, como tudo indica que vai acontecer, a única opção restante será um terceiro turno de eleições.
Enquanto isso, Netanyahu, o primeiro-ministro por mais tempo em Israel, foi indiciado nesta quinta-feira (21) por suborno, fraude e quebra de confiança. Ele está ansioso por permanecer no poder para aprovar uma lei de imunidade para se proteger, dizem seus críticos.
Reino Unido
Os eleitores do Reino Unido escolheram deixar a União Europeia, mas o Brexit não correu bem.
Três diferentes primeiros-ministros sucessivos do Partido Conservador não conseguiram fechar um acordo sobre o Brexit que satisfaça a União Europeia e os políticos britânicos. Em meio a esse caos, os eleitores voltarão às urnas em 12 de dezembro - a segunda eleição em pouco mais de dois anos.
Pressionar as eleições é uma grande aposta do primeiro-ministro Boris Johnson, chefe do Partido Conservador: ele está tentando garantir uma maioria mais forte no Parlamento para aprovar seu acordo do Brexit.
Os britânicos, no entanto, não poderiam estar menos empolgados com outra rodada de votação. A atmosfera geral é de "medo e ódio", resumiu Adam Taylor, repórter do Washington Post.
Hong Kong
Hong Kong está a apenas três dias das eleições distritais locais - uma votação divisiva e significativa, já que é a primeira desde que as manifestações antigovernamentais começaram, seis meses atrás.
"Embora ela não altere fundamentalmente o sistema político de Hong Kong, que, segundo os críticos, está contra o campo pró-democracia, ela é um referendo oportuno sobre o apoio a um movimento de protesto que mostra poucos sinais de que vai diminuir", informou o Financial Times.
Alguns especularam que as eleições seriam canceladas por causa dos protestos diários, especialmente porque alguns manifestantes permanecem escondidos na Universidade Politécnica de Hong Kong, onde resistiram à prisão após uma batida policial e confrontos que se seguiram.
As tensões são altas. Enquanto os manifestantes continuam a exigir mais liberdades políticas, pelo menos oito candidatos ou ativistas pró-democracia foram atacados ou agredidos antes da votação, segundo o Financial Times. Uma pessoa até teve parte da orelha arrancada. Enquanto isso, o maior partido pró-Beijng de Hong Kong vem pedindo aos eleitores que "expulsem a força negra", segundo a Associated Press.
Bolívia
Mais de 30 pessoas morreram em protestos na Bolívia, desde que as disputadas eleições presidenciais de 20 de outubro jogaram o país em turbulência. Agora, a presidente interina da Bolívia, Jeanine Añez, propôs a realização de novas eleições, embora uma data ainda não esteja prevista. O assunto está sendo discutido no Senado, em uma comissão composta por um opositor do ex-presidente Evo Morales e dois aliados dele.
A agitação começou depois que Morales reivindicou a vitória nas eleições de outubro, que teriam inaugurado seu quarto mandato - na Bolívia, a constituição prevê apenas uma reeleição. Mas seus oponentes de direita foram às ruas e o acusaram de fraude eleitoral. Após semanas de tumultos e confrontos entre a polícia e os manifestantes, em 9 de novembro, a Organização dos Estados Americanos divulgou um relatório de que havia encontrado "manipulação clara" nas eleições.
Horas depois de perder o apoio militar, da polícia e até de sindicatos de trabalhadores, Morales renunciou. Ele denunciou sua expulsão como golpe e partiu para o exílio no México.
Isso, contudo, não acabou com a agitação no país. Os partidários de Morales se opõem ao governo interino que o substituiu. É previsto que mais atos violentos ocorram antes das novas eleições.
Sri Lanka
No domingo (17), os eleitores do Sri Lanka elegeram Gotabaya Rajapaksa, ex-ministro da Defesa acusado de violações dos direitos humanos, como seu novo presidente. Após uma eleição tensa, Rajapaksa pode ter dificuldades para formar um governo.
"Com muitos poderes executivos cortados e a oposição no controle de um parlamento poderoso, o ex-oficial de defesa que inspira respeito, mas também teme, pode ter dificuldade em montar um governo", informou a AP na terça-feira.
Na quarta-feira, Rajapaksa fez um movimento para consolidar seu poder nomeando o irmão mais velho Mahinda Rajapaksa, ex-presidente e outra figura controversa, como primeiro-ministro.
A campanha deste ano se concentrou em questões de segurança, principalmente depois que ataques reivindicados pelo Estado Islâmico e realizados por extremistas locais mataram mais de 260 pessoas no domingo de Páscoa em abril. Mas os remanescentes da guerra civil do país também o apoiaram.
"Seus apoiadores acreditam que Gotabaya Rajapaksa ajudou a acabar com a brutal guerra civil de décadas da nação insular em 2009. Durante a campanha eleitoral, ele fez da segurança nacional um foco e prometeu manter o Sri Lanka seguro", Joanna Slater e Hafeel Farisz, do Washington Post, informaram da capital, Colombo.
"Mas para outros, incluindo a minoria tâmil do país, uma vitória de Rajapaksa é motivo de medo", continua a reportagem. "Seu mandato como secretário de Defesa foi marcado por acusações de violações de direitos humanos, incluindo o assassinato e sequestro de jornalistas e opositores políticos. Eles esperam uma repressão aos dissidentes e uma volta ao governo autoritário. Rajapaksa nega as alegações".
Argélia
Em meio à onda global de protestos, os movimentos de mudança política da Argélia não renderam tantas manchetes. Em abril, depois semanas de protestos, o presidente Abdelaziz Bouteflika deixou o cargo, colocando fim ao seu governo de duas décadas. Os protestos começaram em fevereiro, quando Bouteflika, envelhecido e doente, apoiado pelos serviços militares e de inteligência, anunciou que estaria concorrendo a outro mandato.
Agora, os líderes interinos em apuros do país estabeleceram 22 de dezembro como a data para novas eleições - mas o povo também não está feliz com isso.
"Os ativistas estão exigindo reformas abrangentes antes de qualquer votação e dizem que as figuras da era Bouteflika que ainda estão no poder não devem usar a eleição presidencial como uma oportunidade para nomear seu sucessor", relatou a agência France 24.
Dezenas de milhares de argelinos têm realizado protestos semanais contra as eleições.
Afeganistão
Os afegãos votaram em um novo presidente em 28 de setembro - mas ninguém sabe quem ganhou, já que a comissão eleitoral continua perdendo o prazo para divulgar os resultados, citando questões técnicas e de transparência.
"Os líderes, o presidente Ashraf Ghani e o executivo-chefe Abdullah Abdullah, disseram que esperam vencer e indicaram que não aceitarão a derrota por causa de suspeitas de falhas no processo de votação", relataram em Cabul Susannah George e Sayed Salahuddin, do Washington Post.
"Os resultados inconclusivos das eleições e fraude nas eleições presidenciais anteriores, em 2014, quase destruíram o país", continuaram os relatórios. "Uma crise política foi evitada somente depois que os Estados Unidos negociaram um acordo de compartilhamento de poder entre Ghani e Abdullah".
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