Por que Napoleão precisava de apenas quatro horas de sono? Um grupo de cientistas europeus identificou um gene relacionado à regulação do sono, embora tenha indicado que a duração deste também é influenciada por outros fatores, individuais ou ambientais.
Segundo os pesquisadores, cujos trabalhos acabam de ser publicados na revista Molecular Psychiatry, o gene denominado ABCC9 explica em cerca de 5% as variações quanto à duração do sono.
A equipe dos cronobiólogos Till Roenneberg e Karla Allebrandt (Universidade Ludwig-Maximilians, Munique, Alemanha) realizou um estudo com mais de 4 mil pessoas de sete países europeus tão diversos quanto Estônia ou Itália. Pesquisa reiterada com uma amostra de quase 6 mil pessoas.
A análise do comportamento diante do sono (através de um questionário) e das características genéticas mostraram que os indivíduos com uma variação frequente do gene ABCC9 dormiam em geral períodos "bastante menores" que os indivíduos com a outra versão do gene.
"Este não é o primeiro estudo que evidencia o envolvimento dos genes na regulação do sono, mas sua força se faz presente ao observar este gene em uma ampla população e confirma seu papel na Drosophila (mosca da fruta)", comentou à AFP o cronobiólogo francês Claude Gronfier (INSERM, Lyon).
A equipe do professor Roenneberg, em colaboração com pesquisadores da Universidade de Leicester (Grã-Bretanha) demonstrou que o gene ABCC9 também afeta o período de sono noturno da mosca da fruta.
"Para a cama cedo" ou "aves noturnas"
"Isto não é apenas uma associação estatística que dá um papel para um gene que, no fim, não é para tanto, trata-se de uma real função biológica demonstrada, uma charmosa confirmação", disse o Dr. Gronfier. "O papel deste gene na duração do sono é inegável", acrescentou.
Anteriormente, este mesmo gene ABCC9 foi relacionado à diabetes e com doenças do coração.
"Assim, ao que parece, a relação entre a duração do sono e os transtornos metabólicos pode ser explicada em parte por um mecanismo molecular subjacente e comum", declarou o Dr. Allebrandt.
A outra lição do estudo, ressaltou o Dr. Gronfier, é o papel do meio ambiente na duração do sono.
O estudo mostra a influência de cronotipo (os que vão "para a cama cedo" ou os que são "aves noturnas"). Concretamente, mostra que a consequência da variação do gene ABCC9 é mais importante entre os amantes da noite que nos que vão para a cama cedo.
Assim mesmo, os pesquisadores observaram que as consequências da variação genética são mais importantes nas populações submetidas a uma maior amplitude da duração do dia segundo as estações.
"Ali se vê a combinação, a sinergia, entre o meio ambiente e a genética, o que leva a alterações do sono", ressaltou o Dr. Gronfier.
Segundo este especialista, estes resultados" reforçam a mensagem de que uma quantidade de sono suficiente, por meio de uma boa higiene do sono, é fundamental para um funcionamento fisiológico adaptado e parra evitar o aparecimento de graves perturbações".
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