Falando de cima do capô de um carro e com um alto-falante, o presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, voltou a dizer que todas as opções estão sendo consideradas para derrubar o ditador Nicolás Maduro do poder, referindo-se à possibilidade de uma intervenção militar estrangeira na Venezuela.
"Temos avaliado todas as opções para alcançar os objetivos desse movimento... Todas as opções estão sobre a mesa e dizemos isso com responsabilidade", afirmou perante uma multidão reunida em uma grande avenida da capital Caracas neste sábado (9).
Milhares de pessoas em todo o país saíram as ruas hoje para protestar contra o regime, em meio ao mais longo e abrangente apagão da história recente da Venezuela. O discurso de Guaidó, no meio da tarde, pareceu improviso, mas se deu desta maneira devido à falta de energia e ao fato de que a polícia impediu, na madrugada de sábado, três apoiadores de Guaidó de montar o palco onde ele faria seu discurso.
O debate sobre uma intervenção militar ganhou fôlego há duas semanas, quando Guaidó havia mencionado esta possibilidade após o fracasso da entrega de ajuda humanitária na Venezuela. Os países do Grupo de Lima, que apoiam o presidente interino, entretanto, se mostraram contrários a esta opção, devido ao histórico violento de intervenções americanas na América Latina.
Internamente, porém, está crescendo a pressão para que Guaidó solicite uma intervenção estrangeira no país. Um dos principais nomes da oposição venezuelana e que hoje vive no exílio, Antonio Ledezma, pediu, via Twitter, que o presidente interino solicite uma intervenção humanitária no país, apoiando-se em um artigo da própria Constituição da Venezuela, a fim de "deter o extermínio, genocídio e destruição do que resta do país. Antes que seja muito tarde".
Tal artigo em questão é o 187. Ele fala sobre as funções correspondentes à Assembleia Nacional. O item 11, especificamente, estabelece que o poder legislativo pode "autorizar o uso de missões militares venezuelanas no exterior ou estrangeiras no país".
"Quando chegar a hora, vamos ativar o artigo 187 da Constituição", disse Guaidó.
Mobilização
Em seu curto discurso, Guaidó também falou que é preciso que a população se mantenha mobilizada contra o regime. Ele anunciou uma grande marcha até a capital para que "toda a Venezuela esteja em Caracas", com data ainda indefinida.
"Eu entendo e compartilho a frustração que é sentida. Eu também perdi familiares por falta de medicamentos (…) Agora, não podemos ser vítimas do desespero", disse Guaidó, reconhecido como presidente pelo Brasil, Estados Unidos e mais de 50 países.
Ele também insistiu na importância da greve do setor público para que "cesse a usurpação". Na terça-feira (5), ele se reuniu com sindicatos e salientou que conta com o apoio da classe para suas próximas ações. O encontro, entretanto, teve pouca adesão.
Protestos
Apoiadores de Guaidó e Maduro foram às ruas do país neste sábado. As manifestações começaram por volta das 11 horas de Brasília (10 horas no horário no local) e foram pacíficas.
No início da manhã, porém, em uma avenida da capital Caracas, os manifestantes que esperavam pelo presidente interino entraram em conflito com autoridades policiais. Gás de pimenta foi lançado contra eles. Algumas pessoas passaram mal e outras empurraram os agentes da Polícia Nacional Bolivariana. Gritos de assassinos também foram entoados contra a tropa de choque. A tensão posteriormente se dissipou.
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Na manifestação pró-regime, falando sobre o apagão que atingiu quase todo o país, Maduro disse que o processo de reconexão do sistema elétrico nacional "deve ser definitivo" e estará "estável nas próximas horas". Ele também afirmou que vai garantir o "abastecimento dos produtos que o povo necessita", referindo-se aos alimentos subsidiados oferecidos nos Comitês Locais de Abastecimento e Produção (CLAP), assistência médica e distribuição de água.
O presidente da Assembleia Constituinte, Diosdado Cabello, número dois do chavismo, se referiu ao fato de que o regime não prendeu Guaidó quando o presidente interino voltou à Venezuela, após ter deixado o país mesmo estando proibido pela justiça.
"Nós não colocamos Guaidó na cadeia... é a Justiça que vai cuidar disso; temos um caminho muito claro e a investigação está aberta. Não vamos cair no jogo da oposição", afirmou Cabello.