Pelo jornal The Guardian, da Inglaterra, Alex Bellos veio ao Brasil e trabalhou como correspondente no Rio de Janeiro, experiência que o deixou com um português notável e rendeu um livro, Futebol: o Brasil em Campo (Zahar).
Finda a experiência brasileira, não sabia muito bem o que fazer. Pensou em trabalhar com importação de frutas tropicais entre outras ideias esdrúxulas, até que o insight veio, fulminante: escrever sobre matemática, um interesse antigo.
Desse impulso, surgiu outro livro, que acaba de sair no país, Alex no País dos Números (Companhia das Letras), em que o autor escreve sobre as experiências e entrevistas que fez em viagens para Alemanha, Índia, Japão, França e Estados Unidos, além de ter se comunicado com fontes via e-mail na África, na América do Sul e na Oceania.
Bellos é também graduado em Matemática e Filosofia. Ao escolher jornalismo como profissão, acabou enveredando para o segundo campo. Até descobrir que o primeiro poderia render histórias fascinantes.
"No fundo, a matemática é uma brincadeira, uma coisa lúdica. Os problemas são quebra-cabeças gostosos de solucionar", diz Bellos em entrevista por e-mail à Gazeta do Povo, comentando o seu interesse na ciência dos números.
O desafio que assumiu não foi simples. No livro, ele queria falar com os leitores não especializados sem alienar os especialistas e mostrar o quanto a matemática sabe ser sedutora nas histórias que a envolvem e nas descobertas que abriga. Ele queria, enfim, tratar de uma matemática que não se ensina na sala de aula.
"Na escola, não se ensina o contexto, a relevância ou a história da matemática. Talvez as crianças não tenham interesse nesses assuntos, mas acho que, quando ficarem adultas, essas serão as coisas que gostarão de saber", disse Bellos.
O maior problema de um livro de matemática que se pretende acessível a um público amplo tem a ver com as equações. "Acho que foi o Stephen Hawking [físico e cosmólogo britânico, autor de O Universo numa Casca de Noz (Ediouro)] que falou que quando inclui uma equação num livro, o número de leitores cai pela metade", disse Bellos. "Acho que ele está certo. Então tentei incluir o mínimo de equações possível. Mas, é claro, quando o assunto é álgebra, a ciência das equações, tem de incluir. Acho que escrever sobre álgebra foi o mais difícil. Não é a parte em que a matemática é mais complicada, mas é a parte onde você tem que batalhar mais para manter o leitor." O jornalista conta que procurou escrever sobre matemática como se fosse um correspondente vivendo em território estrangeiro. E esse lugar estranho é "o país dos números" que está no título, uma referência à Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll.
Alex no País dos Números é organizado em 12 capítulos independentes, numerados de zero a 11 o zero é uma das descobertas fantásticas abordadas por ele, feita pelos indianos e explicada no texto , em que áreas específicas da matemática recebem atenção. Da álgebra até a geometria, passando por aritmética e todo o resto, o caminho de Bellos passa pelo de figuras importantes como o lógico Raymond Amullyan e o enigmista Ivan Moscovich.
Entre os temas do livro, o britânico escreve com elegância sobre questões trabalhosas como a citada álgebra e parece se divertir muito quando tem chance de explicar curiosidades como o Cubo de Rubik (objeto enigmático que encerra várias questões matemáticas e acabou virando um brinquedo cultuado), falando das competições criadas em torno do objeto.
Em uma das disputas mais bizarras com o Rubik, os jogadores têm 60 minutos para memorizar o cubo embaralhado e depois, de memória, precisam dizer quantos movimentos são necessários para montar os lados de modo uniforme, cada lado de uma cor. Quanto menor o número de movimentos, melhor. O recorde mundial é de 2009, feito do belga Jimmy Coll, que tascou 22 movimentos.
Ao longo da escrita do livro e das viagens que fez antes dela, Bellos conta que acabou descobrindo várias coisas que desconhecia. "Fiquei surpreso por ver como a invenção dos números é recente e como nossos cérebros têm dificuldade de lidar com eles", diz. "Não sabia que existem muitos povos que ainda não têm números e não sabia que há chimpanzés que entendem algarismos."
Serviço:
Alex no País dos Números, de Alex Bellos. Tradução de Berilo Vargas e Claudio Carina. Companhia das Letras, 512 págs., R$ 44.
Na internet: www.alexbellos.com e www.favouritenumber.net