O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, fala sobre seu programa nuclear. A segunda maior preocupação dos EUA no país é com o financiamento a terroristas| Foto: Caren Firouz/Reuters

3 cenários

Irã com a bomba nuclear

Premissa: Negando-se a atender as resoluções da ONU e mesmo sob sanções, o Irã consegue construir uma bomba nuclear.

Possíveis consequências: As leis de não-proliferação nuclear perdem força no resto do mundo. Países da África e do Oriente Médio – Algéria, Árabia Saudita, Egito – podem se sentir ameaçados e iniciar seus próprios programas nucleares. Com uma corrida por armas atômicas, o mundo fica sob constante tensão e pequenos problemas poderão acabar em grandes tragédias. Com mais poder de barganha, o Irã passa a financiar mais fortemente grupos radicais como o Hamas, em Gaza, e o Hezbollah, no Líbano. Mais vulnerável, Israel pode partir para o ataque. Irã se transforma no líder islâmico da região.

Israel ataca – com ou sem EUA

Premissa: Sem vislumbrar cooperação do lado iraniano, Israel ataca o Ir㠖 com ou sem o apoio norte-americano.

Possíveis consequências: O ataque destrói ou atrasa o programa nuclear iraniano. A ofensiva pode ser relativamente rápida e pontual, apenas contra usinas nucleares em solo iraniano. Não se sabe como Teerã reagiria. Poderia retaliar com mísseis contra cidades israelenses e armar o Hamas e o Hezbollah. Também pode convocar uma guerra santa islâmica contra judeus em todo o mundo. O conflito acaba ganhando proporções regionais. Acuado, Israel usa seu próprio armamento nuclear para vencer a guerra. A oferta de petróleo, concentrada no Oriente Médio, pode ser fortemente prejudicada.

Irã com programa nucleare sem bomba

Premissa: De alguma maneira, por sanções ou acordo, o Irã facilita o acesso de funcionários da agência internacional, o enriquecimento de urânio passa a ser importado e Teerã mantém um programa nuclear apenas para fins civis.

Possíveis consequências: Com exceção de Israel e Irã, é a solução mais desejada por todos no momento. Para aceitar tal condição, o Estado judeu provavelmente demandaria uma fiscalização ostensiva das usinas nucleares iranianas – o que pode não estar no interesse do governo de Teerã. A medida evitaria uma corrida na região por armamentos nucleares. Sem se sentir ameaçado, Israel também ficaria mais aberto para discutir uma solução para a questão palestina e poderia reatar relações com outros países árabes, como a Síria e o próprio Irã.

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Relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) da semana passada afirma que o Irã já possui material suficiente para construir sua primeira bomba nuclear. Para a comunidade internacional, é chegada a hora de uma decisão: ou admite-se mais um membro no restrito clube de países com armamento atômico, ou toma-se alguma atitude para acabar com as pretensões iranianas.

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Pelo que sinalizou até aqui, o governo de Barack Obama já está em campo tentando uma solução. Primeiro, pacífica. Na última segunda-feira, o The New York Times vazou o conteúdo de uma carta dos EUA endereçada ao presidente russo, Dmitri Medvedev, em que os norte-americanos sugerem a paralisação de seu projeto de escudo de mísseis no Leste Europeu em troca da colaboração de Moscou nas negociações sobre o programa nuclear iraniano – a Rússia é uma grande fornecedora de materiais militares para o Irã. A barganha faz sentido: o sistema de defesa antimísseis nasceu justamente da preocupação dos EUA com os mísseis iranianos de longo alcance. Sem eles, o projeto perde sua razão de ser.

Washington joga também em outras frentes. Uma delas é a tentativa de uma aproximação progressiva que eventualmente leve a uma discussão sobre o verdadeiro interesse dos EUA: acabar com o enriquecimento de urânio (principal combustível para uma bomba) e fazer com que o Irã deixe de financiar grupos considerados pelos EUA como terroristas (Hamas, em Gaza, e Hezbollah, no Líbano). Oportunidades de conversa foram perdidas no passado.

Para alguns analistas, o governo de George W. Bush não soube utilizar os interesses em comum dos dois países e acabou servindo exatamente aos interesses dos teocratas que governam o Irã. Quando ele colocou o país persa no "eixo do mal", os religiosos radicais, que, na prática, ditam as regras em Teerã, ganharam munição para convencer a população de que era preciso se manter longe do Ocidente. Mas Irã e EUA possuem muitos interesses comuns. Os norte-americanos entraram em duas guerras contra dois inimigos históricos do Ir㠖 Afeganistão e Iraque. Apesar disso, nenhum avanço foi dado na cooperação entre os dois países, algo que Obama pode mudar agora.

Numa região dominada por países sunitas, um Iraque estável e de maioria xiita é um potencial aliado do Irã (também xiita). Teerã também tem interesse de que o Afeganistão não caia novamente nas mãos dos talebans – com quem quase entraram em guerra em 1998. Num sinal de que Cabul pode ser a passagem para acordos maiores, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, sugeriu na última quinta-feira que o Irã seja convidado para uma conferência sobre a atual situação no Afeganistão.

Israel

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Mas uma aproximação sempre costuma ser um processo lento, e tempo é o que um outro grande aliado dos EUA não tem. Israel vê a construção de uma bomba nuclear iraniana como uma ameaça existencial aos judeus. Quando Benjamin Netanyahu recebeu a missão de formar um novo governo israelense, no mês passado, ele afirmou que o Irã é a maior ameaça para seu país desde a guerra da independência.

Mas podem os israelenses atacar mesmo que os EUA não os ajudem? "A pergunta certa seria se Israel pode atacar mesmo se os EUA pedirem para que não faça isso. Israel é um país com um histórico de fazer coisas surpreendentes para se defender. É a questão de um milhão de dólares. Se Israel vai atacar, quando e como", afirma Michael Adler, estudioso da questão iraniana do Woodrow Wilson Center, nos EUA.

Para Lawrence Haas, ex-estrategista de comunicação da Casa Branca (1998) e membro do grupo conservador Committee on the Present Danger (Comitê sobre o Perigo Atual), o momento é decisivo para o futuro do Oriente Médio. Segundo ele, a melhor solução é um esforço conjunto e global que pressione o Irã a abdicar de seu programa nuclear. "A única coisa que irá deter o Irã é um esforço conjunto por parte da comunidade internacional. Todos juntos para aumentar a pressão sobre o país até que eles vejam que o custo de seguir em frente é muito grande.

O Irã é um país com economia muito fraca e um regime relativamente impopular. Se existe alguma saída é aumentar a pressão econômica e forçar o regime a repensar a direção que está seguindo", disse ele à Gazeta do Povo. "Mas é algo que deve ser feito já, porque o tempo é curto."