A chave da segurança de uma usina nuclear reside na consideração de todas as hipóteses possíveis de acidente, explica Neilson Marino Ceia, engenheiro da Comissão Nacional de Energia Nuclear. No caso de Fukushima, diz ele, só o governo japonês sabe se havia um plano de emergência para tsunamis.

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Marino Ceia conversou por telefone com a Gazeta do Povo:

Parece perto ou distante uma solução para Fukushima?

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Perto se você analisar do ponto de vista de desativação das unidades. Vi que existe a possibilidade de fazerem algo como foi em Chernobyl, de se subterrar a usina. Mas distante se olhado do ponto de vista de recuperação da usina. Não sei até que ponto vão conseguir identificar os danos internos do reator.

É possível reaproveitar a usina de alguma maneira?

Depende do que foi considerado no projeto dela quanto a riscos. Eles tiveram problema com o terremoto? Não. Ou seja, os danos causados por um forte terremoto estavam previstos. Mas até que ponto havia um planejamento de emergência para um tsunami? Se existiu essa preocupação na época da construção da usina, é possível que a recuperem. Senão, vai ser muito difícil.

É possível dimensionar o impacto de um acidente ainda maior?

O pior cenário possível seria a explosão da parte interna do reator, em que não se teria, de forma nenhuma, controle sobre a nuvem radioativa lançada à atmosfera.

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A radiação no entorno da usina está muito acima do normal e já foi constatada contaminação em água, leite e alimentos. Quão perigoso é isso?

Para nós, diretamente, é pouco provável que a nuvem radioativa chegue até aqui ao Brasil. Indiretamente, porém, é preciso atenção com a importação de alimentos ou produtos do Japão. Se o Brasil não tiver condições de monitoramento, isso pode sim nos afetar.

De que forma?

Os problemas à saúde podem decorrer em função de exposição e contaminação. Um exemplo do primeiro caso é quando a pessoa toma sol o dia inteiro sem proteção. Ao fim do dia, pode ter queimadoras ou insolação. Ao longo da vida, pode até desenvolver câncer de pele. Já a contaminação interna se dá por meio da ingestão de produto ou alimento contaminado, inalação ou contato na pele e absorção pelos poros. Esses casos são bastante complicados.

Qual o impacto na saúde dos homens que estão trabalhando em Fukushima?

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Depende muito de indivíduo para indivíduo. Em Hiroshima e Nagasaki, por exemplo, teve gente que morreu imediatamente, gente que morreu anos depois e gente que viveu normalmente. Você só vai ver esse efeito ao longo do tempo, não dá para prever nada.

O Brasil está livre de grandes terremotos e tsunamis como o do Japão. Isso livra o complexo de Angra de quaisquer acidentes mais graves?

Livrar não, mas torna bastante baixa a probabilidade. A questão é: como evitar que a massa nuclear nos afete? No caso de Angra, há três circuitos d’água, ou seja, o resfriamento dos reatores é feito em três processos distintos, em que um se comunica com o outro. Não havendo contato físico, não existem grandes probabilidades de ter algum efeito nocivo.

Acidente trouxe de volta as polêmicas sobre o uso de energia nuclear. O que garante a segurança deste tipo de fonte?

O projeto de uma usina precisa considerar todos os detalhes em relação ao que pode acontecer em caso de acidente e prever um sistema de segurança eficiente. No caso de um acidente em si, é preciso ter um planejamento que te permita evacuar pessoas e controlar ao máximo os impactos. Tudo depende da concepção do projeto; de quanto de dinheiro se tem para aplicar as medidas; e da manutenção do planejamento de emergência.

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Sob esse ponto de vista ambiental, a energia hidrelétrica não é melhor?

Depende muito das comparações. Um usina nuclear, por exemplo, não inunda uma área, prejudicando fauna e flora e causando um passivo ambiental muito maior do que uma usina nuclear.

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