Se o Estado Islâmico (EI) realmente plantou uma bomba ou qualquer um de seus afiliados egípcios teve alguma responsabilidade na derrubada do avião russo na Península do Sinai, na semana passada, isso seria uma péssima notícia para o presidente Vladimir Putin, tanto interna quanto externamente.
Até agora, funcionários americanos estão ressaltando não terem chegado a uma conclusão firme de que uma bomba foi responsável. Mas o fato de a Inteligência dos EUA — assim como a do Reino Unido — ter ventilado que essa é a explicação mais plausível é por si só contundente.
A tragédia que matou 224 pessoas aconteceu menos de um mês depois de Moscou ter iniciado sua intervenção militar na Síria, quando Putin disse que o Estado Islâmico é uma ameaça direta à Rússia e alertou para a possível retaliação dos extremistas. Agora, aparentemente, o medo se tornou realidade.
Até quarta-feira, a fortemente controlada imprensa russa não estava se posicionando sobre a causa do desastre. Naquela noite, no entanto, veio a informação que um jornal de São Petersburgo dizia que vestígios de explosivos teriam sido encontrados nos corpos de algumas vítimas.
A confirmação de que uma bomba — em toda probabilidade uma retaliação pelos ataques aéreos de Moscou ao EI na Síria — derrubou mesmo a aeronave transformaria a noção dos russos sobre o caos no Oriente Médio de uma distante manchete do noticiário para uma realidade imediatamente dolorosa.
Com essa questão em jogo, Putin fica em posição delicada na esfera doméstica. Por quase dois anos, o líder russo tem sido enormemente popular, aproveitando uma nova onda de nacionalismo impulsionada por suas ações assertivas na Ucrânia e, agora, na Síria. Mas a prova de que o avião tenha sido derrubado por uma bomba pode prejudicar sua aura.
Com isso, Putin pode se sentir na obrigação de revidar com ainda mais intensidade contra o Estado Islâmico na Síria, ou mais perto de casa.
Alguns recrutas do grupo vêm das regiões das repúblicas islâmicas no Sul da Rússia — a maioria na Chechênia, onde separatistas e jihadistas, parte deles ligada ao EI, ainda operam, apesar da repressão mantida por Moscou no rastro das guerras dos anos 1990.