A morte de uma menina de dois anos no último dia 24, contaminada pelo vírus do ebola, gerou pânico entre a população do Mali e começa a influenciar nos costumes tradicionais. "Para um país com uma forte tradição oral e de festas familiares, se impõe uma mudança de comportamento em tempos de epidemias", explicou o médico malinês Abdoulaye Diallo.
Desde que a morte da criança se tornou conhecida, muitos são os malineses que por precaução já não lavam as mãos no mesmo recipiente, não comem em grupo e no mesmo prato, evitam que as crianças brinquem juntas na rua e modificam rituais funerários.
A inquietação provocada pelo alcance do vírus, alimentada nas redes sociais e pela precariedade dos serviços públicos de higiene e pela falta de infraestrutura sanitária, levou, inclusive, alguns malineses a não se cumprimentarem mais apertando as mãos.
Despreparo
Se existe carência de infraestrutura também existe carência de médicos perante esse tipo de caso. "Os médicos e seus assistentes não estavam preparados para receber um caso de ebola", contou uma fonte do hospital de Kayes, no oeste do Mali, onde a menina se hospitalizou.
Já uma testemunha, que pediu anonimato, garantiu que a falta de comunicação sobre o que estava acontecendo provocou uma situação de histeria no centro médico e vários pacientes tentaram fugir.
Equipe da OMS ajuda a detectar possíveis casos
Um grupo de especialistas da Organização Mundial de Saúde (OMS) está no Mali para ajudar nas tarefas de detecção e controle de eventuais contatos com o ebola. A menina que morreu infectada pelo vírus morava na Guiné e foi lá onde contraiu a doença. Mas após a morte do pai e da avó paterna em circunstâncias desconhecidas, já que a autópsia não foi feita, a família enviou a criança ao Mali acompanhada de sua avó materna.
Após a morte, os cidadãos tiveram cuidado especialmente nas regiões por onde a menina passou em sua viagem de Conacri a Kayes, a 500 quilômetros ao oeste de Bamaco, já que as consideram lugares com maior possibilidade de possíveis contágios.
Vários cidadãos criticam a falta de informação sobre o vírus e o fato de o pouco que se sabe não ser transmitido nos diferentes idiomas do país. Por isso propõem que, para chegar à população, o Ministério da Saúde se apoie nos pregoeiros e nos chefes das tribos. O governo tomou todas as medidas para evitar a propagação do vírus e lançou uma campanha informativa.