A nacionalização dos hidrocarbonetos foi planejada para ser um sucesso nas urnas. Por trás dela, está a concepção no imaginário boliviano de que a posse desses recursos levará ao desenvolvimento econômico. Dependendo de como prosseguirem as negociações do governo da Bolívia com as petrolíferas multinacionais, o ato nacionalista pode ter o efeito contrário. Empresas como a Petrobrás assinaram contratos com o país vizinho justamente porque ele não tinha como bancar os investimentos necessários para extrair o gás natural. Se fechar as portas de vez para as aplicações estrangeiras, a Bolívia pode voltar ao impasse de ter o gás sob o solo e sem ganhar nada com isso.
"A nacionalização pode gerar reações fortes, como a saída de empresas e uma fuga de investimentos", diz o economista Renato Baumann, da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), instituição ligada à Organização das Nações Unidas (ONU). "É verdade que nas décadas de 50 e 60 economias fechadas cresceram mais do que durante o processo de abertura dos anos 90. Mas a estratégia de 50 anos atrás não é a mais indicada hoje em dia", completa. Segundo ele, o crescimento do comércio mundial, inclusive na área de energia, cria muitas oportunidades de negócios que podem ser aproveitadas por nações em desenvolvimento.
Porque está indo na contramão da abertura da economia mundial, a Bolívia deverá enfrentar mais dificuldades para financiar seu crescimento caso seja abandonada pelas petrolíferas ou sofra sanções internacionais. "Teremos de ver se a Bolívia teria capacidade de maximizar os ganhos com seus recursos naturais sem parcerias internacionais", diz Baumann. Como o centro das discussões é um produto muito desejado pelo Brasil, há chances do governo boliviano evitar o isolamento de sua economia. "As petrolíferas precisam do gás e do petróleo, por isso seriam capazes de aceitar uma rentabilidade menor", opina Rafael Villa, da USP. (GO)