Por anos, o welfare state, ou estado de bem-estar social, foi sinônimo de avanço e conquistas na Europa do pós-guerra ao transformar em direito dos cidadãos o acesso à saúde, à educação e a outros benefícios. Agora, esse sistema é golpeado com força pela crise econômica, já que diversos países europeus estão reavaliando o quanto o poder público pode bancá-lo.
Críticos de esquerda argumentam que o estado de bem-estar social oferece soluções para os problemas dos trabalhadores, mas não atinge as causas desses problemas. Cria seguro-desemprego, por exemplo, em vez de gerar empregos; ou dá uma série de benefícios, mas não aumenta os salários. Entre as críticas da direita, está a de que os benefícios excessivos podem deixar os trabalhadores acomodados e, consequentemente, reduzir a produtividade.
Diante da crise, não apenas governos neoliberais, mas os próprios sociais-democratas estão recorrendo aos cortes diante da encruzilhada da crise. Os benefícios sociais vão sobreviver à crise europeia?
Charles Pennaforte, diretor do Centro de Estudos em Geopolítica e Relações Internacionais (Cenegri), do Rio de Janeiro, considera que saúde, educação e habitação não podem sofrer cortes muito drásticos. Os países precisam reduzir as despesas com a máquina pública, diz, que é mais suscetível aos gastos.
"Os cortes não podem ser radicais, pois grande parte da economia desses países é dinamizada por esses setores que empregam muita gente. Cortes sem critérios vão gerar mais recessão", alerta Pennaforte.
Gunther Rudzit, coordenador do curso de Relações Internacionais da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), de São Paulo, diz que a área de segurança, indo desde os bombeiros até a defesa nacional, não pode sofrer grandes cortes. Já em setores como saúde e educação, ele acredita que são necessários rearranjos "dependendo da cultura e da capacidade de cada país".
A professora de Economia Cintia Rubim, do Centro Universitário Curitiba (Unicuritiba), observa que já há sinais de que a maior fragilidade social está resultando no aumento de usuários de drogas e de casos de depressão na Grécia. A pesquisadora cita uma pesquisa do Instituto Universitário de Investigação em Saúde Mental, de Atenas, que revelou um aumento de 40% na taxa anual de suicídios na Grécia.
Para Cíntia, os governos não devem se preocupar em mostrar apenas para o mercado e para os credores que estão em busca de soluções. "É preciso sinalizar para a população que esses cortes não significam um abandono do Estado para com a sociedade, a fim de que as pessoas consigam sentir confiança na economia", diz.
Rudzit avalia que uma recuperação econômica vai levar no mínimo dez anos para ocorrer e a expectativa é de que ressurja uma Europa mais comedida. Para esses especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo, o estado de bem-estar social não deixará de existir completamente. Pennaforte acredita que o crescimento econômico, quando voltar a ocorrer, vai estimular a retomada dos investimentos sociais. "Contudo, os patamares serão inferiores aos atuais".
Imigração
As consequências da crise também atingem os imigrantes, que estão encontrando mais barreiras para entrar ou para permanecer na Europa. Os pedidos de mudança no Tratado de Schengen (que permite livre trânsito entre países da União Europeia) são um sintoma das preocupações em controlar a imigração. "Os poucos empregos existentes deverão ser protegidos com unhas e dentes. Certamente tere mos uma maior vigilância das fronteiras", diz Pennaforte.
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Quem são os indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro indiciado, a Operação Contragolpe e o debate da anistia; ouça o podcast
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”