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O presidente da França, Emmanuel Macron, já vinha liderando as pesquisas para ser reeleito na disputa que terá seu primeiro turno em 10 de abril, mas um fenômeno conhecido como “efeito Malvinas” fez sua vantagem aumentar e o deixa mais perto da vitória.
Trata-se de uma referência ao aumento na aprovação que a então primeira-ministra britânica Margaret Thatcher experimentou nos anos 1980, ao liderar o Reino Unido durante a Guerra das Malvinas.
Analistas apontam que a monopolização do noticiário pela guerra da Ucrânia beneficia Macron, que vem impondo sanções à Rússia e preside no momento o Conselho da União Europeia, ao mesmo tempo em que mantém conversas com o presidente russo, Vladimir Putin.
Ainda que por ora essas sanções e o diálogo com o Kremlin não estejam gerando resultados no campo de batalha, Macron passa para a população francesa, segundo analistas, a imagem de um líder internacional importante e colhe dividendos eleitorais por isso.
Após a guerra, Macron ganhou pontos nas pesquisas
Uma pesquisa realizada pelo instituto OpinionWay entre 14 e 17 de março mostrou que o atual presidente lidera a corrida eleitoral francesa com 29% da preferência do eleitorado. Ele tem 12 pontos de vantagem sobre a segunda colocada, a direitista Marine Le Pen, a maior vantagem no primeiro turno de uma eleição presidencial na França desde a disputa de 1988 entre François Mitterrand (reeleito em segundo turno naquele ano) e Jacques Chirac.
Os candidatos mais próximos de Macron e Le Pen são o esquerdista Jean-Luc Mélenchon e Valérie Pécresse, de centro-direita, ambos com 12%, e o direitista Éric Zemmour, com 11%.
Em levantamento realizado no final de fevereiro pelo mesmo instituto, Macron estava com 24%, apenas cinco pontos à frente de Le Pen. As pesquisas mais recentes indicam que a disputa deve ir para o segundo turno (marcado para 24 de abril), cujas simulações também vêm sendo lideradas pelo atual presidente.
Conflito na Ucrânia deixa outros assuntos em segundo plano
Os adversários de Macron enfrentam dois desafios principais de momentos de guerra: o conflito deixa outros assuntos em segundo plano e a população de um país costuma se unir em torno do atual chefe de estado contra o inimigo em comum.
“Obviamente, nosso papel em uma crise internacional não é minar o papel do presidente francês nas negociações e na diplomacia”, afirmou Laurent Jacobelli, porta-voz da campanha de Le Pen, em entrevista ao jornal britânico The Guardian. “Mas não é normal que o presidente faça deste o único assunto e ofusque o resto.”
Em artigo no site do think tank americano Wilson Center, o pesquisador Steven Philip Kramer acrescentou que a maioria dos principais adversários de Macron demonstrou anteriormente simpatia por Putin: Zemmour e Le Pen, pelo discurso nacionalista do presidente russo, e Mélenchon, pela postura antiamericana e contrária à Otan, a aliança militar do Ocidente.
“Mas depois da invasão da Ucrânia, ser amigo de Putin deixou de ser uma vantagem e fotos deles junto com Putin não são mais algo que queiram exibir. E Zemmour não se cobriu de glória – dado o clima na França a favor da Ucrânia – ao expressar oposição à permissão de entrada de refugiados ucranianos na França”, argumentou Kramer.
Zemmour reclama de tudo girar em torno da guerra
Zemmour afirmou logo após a invasão russa que a chegada de refugiados ucranianos poderia “desestabilizar a França, que já está sobrecarregada pela imigração” e que preferia “que eles ficassem na Polônia”, mas depois atenuou o discurso e disse que oriundos da ex-república soviética poderiam receber vistos se tivessem “laços e família na França”.
A exemplo dos assessores de campanha de Le Pen, ele criticou o fato de a guerra ter se tornado o tema predominante neste período eleitoral.
“Querem resumir a campanha eleitoral a um assunto que não será decisivo na França daqui a dez anos, 20 anos. Primeiro tivemos a Covid-19, e falávamos apenas disso, e agora estamos falando apenas da guerra na Ucrânia. Não estou querendo dizer que a Covid e a guerra na Ucrânia não são importantes, mas devemos ver o que será decisivo para a França em cinco anos, em dez anos, isso é a eleição presidencial”, afirmou, em entrevista à emissora BFM TV.