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Denunciando um "golpe" do regime militar egípcio, ativistas de tendências islâmicas e liberais disseram nesta sexta-feira (15) que a dissolução do primeiro Parlamento livremente eleito na história do país leva o Egito de volta a uma fase de turbulências, 16 meses depois da derrubada do regime de Hosni Mubarak. A Irmandade Muçulmana, grupo mais bem organizado do país e que passou décadas sendo reprimida por Mubarak, alertou para "dias perigosos" pela frente, em meio a sinais de que a junta militar que substituiu Mubarak não irá permitir a ascensão de um governo islâmico. Houve quem comparasse a situação à da Argélia em 1992, quando o Exército cancelou uma eleição que havia sido vencida por um partido islâmico. Mas, na véspera do segundo turno da eleição presidencial, contrapondo um ex-protegido de Mubarak a um candidato islâmico, pouca gente saiu às ruas. "Todos os ganhos democráticos da revolução podem ser eliminados e revertidos com a entrega do poder a um dos símbolos da era anterior", afirmou a Irmandade depois de os juízes da Suprema Corte, nomeados por Mubarak, anularem a eleição parlamentar realizada meses atrás e na qual a Irmandade havia feito a maior bancada. Mas poucos analistas anteveem confrontos violentos em breve. Para muitos, a decisão pareceu refletir uma preocupação da junta militar de que uma vitória de Mohamed Morsy, candidato presidencial da Irmandade, impediria o Exército de manter sua influência depois da posse de um presidente civil, em 1o de julho. A Irmandade, preocupada em não dar motivos jurídicos para a anulação da sua candidatura presidencial, evitou convocar seus seguidores às ruas. Com isso, poucas centenas de pessoas, de outros grupos islâmicos ou de orientação laica, se reuniram na praça Tahrir e em outros pontos tradicionais de manifestações. O rival de Morsy no segundo turno da eleição, marcado para sábado e domingo, será o brigadeiro da reserva Ahmed Shafik, ex-comandante da Força Aérea e último premiê da era Mubarak. Muitos egípcios decidiram votar nele na esperança de que ele consiga restaurar a ordem no país, após a turbulenta transição dos últimos meses. Mas para muitos, inclusive para investidores estrangeiros, a maior preocupação é de que a incerteza política se mantenha. "Qualquer que seja o resultado desses eventos, o processo político e de gestão foi complicado, retardando a possível implementação das amplas reformas macroeconômicas e estruturais necessárias para iniciar rapidamente a recuperação e atenuar as restrições financeiras", disse Richard Fox, da agência de classificação de risco Fitch, explicando a decisão de rebaixar os títulos da dívida egípcia à categoria de "lixo".

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